terça-feira, 6 de novembro de 2012

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GITA


Por Swami Subrahmanyananda
(Dr. Sir S. Subrahmanya Iyer)
(Prefácio da 1a Edição em Sânscrito,
publicada na Índia em 1917) 



Esta edição da Gita é nova, num sentido muito geral e substancial. 

Os versos setenta e ímpares, que deveriam integrar a Escritura, mas que não estão incluídos em nenhuma das edições existentes, foram assinalados e devidamente incorporados a esta. 

A pergunta “se a Gita é completa”, feita recentemente nas colunas dos jornais, não mais causará discussão. 
Qualquer pessoa que possa ter pensado que aqueles que levantaram esta questão (referente ao caráter incompleto da Gita), ultimamente tiveram a ideia de alterar o texto desse venerável Livro, não deve mais permitir que tal suspeita permaneça em sua mente.

 É desnecessário dizer que nenhum dos versículos em questão são de invenção moderna, pois todos eles podem ser encontrados na Obra original, o Mahabhárata, porém em partes e contextos onde eles não deveriam estar, isto é, fora de seu devido lugar.

 Tudo o que se fez foi simplesmente recolocá-los em seu lugar e ordem nesta Gita, assim como era no Bhárata de 24 mil Slokas, o predecessor do Poema Épico que agora temos em mãos.

 Os detalhes incorporados aos versos, como foi declarado acima, são tratados no prefácio do Editor (K. T. Srinivasa Chariar)2, e é, portanto, desnecessário acrescentar qualquer coisa em relação aos mesmos. 

O acréscimo assim feito não afeta de modo algum o Ensinamento do Senhor, de acordo com todas as edições existentes, e não pode haver dúvida de que uma manifesta simetria e totalidade foram asseguradas à Escritura pela incorporação dos versos aludidos no princípio deste comentário. 

A alteração acima referida, entretanto, não é o principal motivo de que esta edição seja nova.

Sua novidade e valor residem principalmente na divisão da Escritura em vinte e seis capítulos, adotada de acordo com o Comentário de Hamsa-Yogue, conhecido como Khanda-Rahasya.

 Este comentário, até então pouco conhecido fora da antiga Organização chamada Śuddha Dharma Mandalam, é uma verdadeira fonte de inapreciáveis interpretações de Ensinamentos Secretos contidos em alguns dos mais importantes livros sagrados arianos, tais como em partes dos Vedas, em alguns dos Upanishads, no Mahabhárata, no Ramayana, e em alguns dos Puranas.

Deve ser mostrado, de uma vez por todas, que o nome “Hamsa-Yogue” não é o nome de um autor específico individual, mas o de um Adhikara-Purusha, o qual é um Membro da Hierarquia Oculta, engajado no Governo Espiritual de nosso globo, e que é encarregado de fornecer ao mundo, de tempos em tempos, como um dever, explicações esotéricas dos Ensinamentos das Escrituras. 

No prefácio do referido Comentário, na medida em que este se relaciona com a Gita, o Autor mostra que a divisão original foi de vinte e quatro capítulos, sem incluir o primeiro, chamado “Gitavatara” ou “A Gênese da Gita” (que é de caráter simplesmente introdutório), e o último, denominado “Brahma-Stuti”, dedicado ao louvor a Brahma. 

Aqueles que por tanto tempo estavam acostumados à divisão deste livro em dezoito capítulos, vão naturalmente pedir uma explicação para a atual divisão em vinte e quatro, tornada pública pela primeira vez.

 A resposta é que a divisão tem seu fundamento na Gáyatri. 

Porém, poder-se-ia perguntar agora por que tal fundamento foi considerado necessário pelo Autor.

 Alguma elucidação disto também pode ser tentada. Isto se baseia na influência desvinculada que foi exercida sobre os colonos arianos, no sul dos Himalayas, por dois dos maiores Símbolos conhecidos pelo homem civilizado. 

Estes são: o Pranava (ou a Sílaba “OM”), constituído de três letras “A”, “U” e “M”, e de uma quarta letra, o “I”, que, de acordo com as regras de fonética da gramática antiga do idioma Sânscrito, está latente nele (no Pranava); e a Gáyatri, que é constituída pelas vinte e quatro sílabas: “Tat-sa-vi-tur-va-rê-ni-yam-bhar-gô-dêva-sya-dhi-ma-hi-dhi-yô-yô-nah-pra-chô-da-yât”.

 – Destes dois Símbolos, o primeiro é, se assim se pode dizer, de origem primeva. 

De qualquer forma este é pré-ariano, como é evidente no Mantra “OM-mani-padmê-hum”, ainda em uso naqueles países onde o sangue na massa da população é atlante. 

Das quatro letras do Pranava, a primeira, o “A”, representa o “Atma” ou o Aspecto “Ser” de Brahman; a letra “U”, a Prakriti (Matéria), ou o Aspecto “Não-Ser”; o “M” é a relação patente entre os dois; e o “I” é o Aspecto Uno Latente. Ambas juntas (M e I) representam a Shakti, ou Aspecto Força.

 Estes quatro últimos conceitos formam a base para uma Filosofia Sintética que abrange estritamente tudo no Cosmo Manifestado. 

Além disso, o Monossílabo OM, em si mesmo, é mais que um mero símbolo, e, quando pronunciado por um verdadeiro Mago Branco, é capaz de produzir os mais maravilhosos resultados. 

Esta Sílaba deve ser pronunciada no início e no fim de cada Sacrifício, de todo ritual religioso, do estudo das Escrituras e nas recitações de Mantras, por aqueles que meditam com a ajuda dos mesmos. 

Com relação à Gáyatri, tanto sob o ponto de vista do poder espiritual, como de seu valor simbólico, ela está em segundo lugar somente em relação ao Pranava (OM), o qual, em certo sentido, a expande e exemplifica, e conseqüentemente é denominada “Veda-Mata”, a Mãe do Conhecimento, Ciências e Artes.

 Daí o antigo costume, estabelecido pelos Autores das Escrituras (como o Mahabhárata), de modelarem suas composições com analogia à estrutura da Gáyatri, com o duplo propósito de invocar as bênçãos divinas para tais composições e de fazer delas meios para transmitir lições de grande significado para aqueles que as estudam. 

Sendo assim, o próprio assunto a considerar, além da grande variedade de objetos e idéias compreendidos e simbolizados pela Gáyatri, é: “que coisas ou idéias o Autor da Gita teve especialmente em sua mente ao escrever vinte e quatro capítulos”. 

Elas são, por razões claras, os vinte e quatro grandes fatores que entram na constituição do Cosmo manifestado, incluindo, naturalmente, a evolução de nossa própria humanidade.

 Esses fatores, na linguagem técnica dos Livros, são os vinte e quatro Tatwas, emanados do Aspecto Material de Brahman (referido como “Mula-Tatwa”, no Yoga-Dípika) pelo Aspecto Força de Brahman, chamado “Bahu-Bhávana-Mahashakti”, de acordo com a ideação do Aspecto “Ser” de Brahman, isto é, o Paramatma.

 – Os Tatwas em questão consistem, como é bem conhecido, de cinco Mahabhutas, ou substâncias elementares que são chamados: terra, água, fogo, ar e éter; os cinco Tanmatras, ou as cinco escalas vibratórias que regulam e governam a “Guna”, ou qualidade peculiar de cada um dos referidos cinco elementos; os cinco Karmendriyas ou órgãos motores; os cinco Gñanendriyas, ou órgãos dos Sentidos; Manas, ou órgão do raciocínio e intelecto4; Buddhi, ou órgão da Intuição; Ahamkara, veículo de manifestação do Eu; e o Avyakta (Akasha), o mais sutil (indiferenciado), veículo do Atma ou Mônada. Para seguir o assunto, em palavras muito instrutivas, vejamos o que diz o “Dharma Dípika” I – II – 2 – 18: 

“Os vinte e quatro Tatwas são chamados ‘Puru’, e seu aspecto coletivo apresenta o mesmo nome. 

“Isto nada mais é que a divina ‘cidade de nove portas’ (o corpo humano).

 O ‘Eu’ repousa aí e, em conseqüência disso, dá origem ao nome Purusha, em todos os planos. 

“Todos os homens são, portanto, chamados ‘Purusha’, e da mesma forma os Devas. 

“Os Purushartas nada mais são que os poderes de Purusha, os quais asseguram a Ele os resultados desejados. Ouve-me enquanto explico sua natureza e características: 
“Dharma, Artha, Kâma e Moksha são reconhecidos como os Purushartas, mas existe um quinto conhecido como Prâpti. 
“A cada homem (a certa altura de sua evolução) advém o sentimento: ‘Eu quero chegar a ser protetor de tudo.’

 Daí esta proteção se torna prioritária e o primeiro objetivo de sua existência. Assim, Dharma, o primeiro dos Purushartas, é declarado pelo Sábio não ser outra coisa que esta proteção.

“Todo homem (buscador da Verdade) decide dentro de si mesmo: ‘Eu quero chegar a ser conhecedor daquilo que forma a conotação de todos os Sons.’ Por isso Artha constitui o segundo dos Purushartas; assim dizem os conhecedores da Verdade. 

“Todo homem diz para si mesmo: ‘Eu serei feliz’. Assim, Kâma (ou desejo) constitui o terceiro dos Purushartas, o qual se manifesta como esta felicidade. 
“Todo homem (que alcançou a Liberação) diz para si mesmo no fim de todos os seus labores: ‘Estou livre!’.

 Por isso Moksha (ou Liberação), é declarada ser o quarto dos Purushartas. 

“Toda pessoa (que alcançou a Realização) diz para si mesma: ‘Eu finalmente atingi a Meta!’. Por isso Prâpti (ou Realização), benéfica em sua natureza, é declarada pelos Conhecedores de Brahman ser também um Purusharta.” 

Assim se torna óbvio que o objetivo do Autor em fazer corresponder o número de capítulos ao número de sílabas da Gáyatri foi gravar indelevelmente, na mente do estudante, que todos devem saber a íntima e inseparável conexão que existe entre os vinte e quatro fatores, os quais estão subjacentes na mais profunda raiz da evolução de homens e Devas, de um lado, e do outro a esplêndida fruição dessa evolução – os Purushartas – tão bem descritos na passagem referida acima.

 Não está fora de propósito acrescentar que o “Ramayana”, de Valmiki, fornece outro exemplo admirável da adoção de um esquema semelhante. 

Tal esquema é a introdução das vinte e quatro sílabas (que são o fundamento da Gáyatri) em um igual número de versos (respectivamente), cada um dos quais encabeçando um grupo de “mil versos”, em todos os “vinte e quatro mil” que constituem a totalidade do citado Poema Épico.

 Além do mais, esta Obra imortal do Maharishi (ao qual Kâlidasâ, o grande poeta, com a devida reverência, se refere como “o Vidente da Senda” – Margadarshi Maharishi) contém, em si mesma, uma Gita de vinte e seis capítulos com o nome de Arsha-Gita, a qual, com as bênçãos do Senhor Naráyana, se espera que virá à luz, numa data não distante. 

Passando ao segundo notável aspecto desta divisão, a classificação dos vinte e quatro capítulos em quatro grupos de seis capítulos cada um, vemos notadamente que é a Gáyatri “os quatro pés da Gáyatri”. 

Para tornar inteligível esta declaração aparentemente enigmática, torna-se necessária alguma explicação.

 O fato de que Samsara, ou a existência condicionada, não é outra coisa senão Brahman em Seu Aspecto manifestado, é indiscutível. 

E em toda existência condicionada três fatores se apresentam prioritariamente. 

Estes são: “Gñana” ou Conhecimento, “Ichchha” ou Desejo (ou Vontade), e “Kriya” ou Atividade. Sua consumação é aquilo que conhecemos e chamamos de Consciência e Vida. Esta Vida, expressando-Se, apresenta quatro estágios ou estados distintos. No mais baixo deles (mais baixo apenas sob nosso ponto de vista) predomina a Atividade; no seguinte, mais alto, predomina o Desejo; e naquele que está acima, o Conhecimento. 

No quarto e último estágio ou estado, está a Síntese, ou a soma dos três mais baixos. 

A sublime experiência alcançada no mais alto estado (Síntese) é tão única, profunda, e tão cheia de felicidade, que permite numerosos nomes altissonantes, tais como: Samadhi, Śuddha-Dharma, Yoga, Amrita, Nirvana, Sukha, Eka, Namaskara, Sharana, Brahma-Samsthiti, Paramapada e Turiya.

 E é neste último estado onde o Ser resplandece, e se compreende como referente a Ele a descrição feita na célebre passagem do Mandukya-Upanishad, I-7: “Chaturtham manyantê sa Atma sa vijneyah = Eles pensam disto como o Quarto (estado). Aquele é o Ser. E Aquele deve ser conhecido.”

 Estes quatro estados têm sido considerados, em conjunto, como unidos por um fio, em obediência à Vontade Divina, e isto é declarado ser Bhagavad-Sankalpa-Sutra. 

Para estarmos seguros, deve ser mostrado que o que foi indicado acima, a grosso modo, para aqueles que se devotam ao estudo da Ciência Sagrada que a Gita expõe, é que a divisão em quatro grupos foi feita com os mesmos fundamentos com os quais foi elaborada a estrutura total. 

A última feição do arranjo dos capítulos que requer uma observação, é que cada um dos quatro grupos consiste de seis capítulos, nem mais nem menos.

 A razão disso é que esse número também tem sido usado como sinal técnico para certas idéias e fatos que merecem ser conhecidos e relembrados. 

As idéias relevantes na atual conexão são aquelas relacionadas com os deveres dos quais se incumbe um membro da sociedade ariana, de acordo com os Livros Sagrados. Estes deveres são:
 1) Adhyâyana = estudo; 
2) Adhyâpana = ensino; 
3) Yagna = sacrifício;
 4) Yâgna = conduzir um sacrifício para outrem;
 5) Dana = dar; 
6) Pratigraha = receber. –
 Estes deveres, em relação à pessoa que é um aspirante à Liberação, são explicados no Dharma Dípika I-II, 36-40, como segue: 

“1) – O Sujeito do estudo é Brahman à luz de Seu Símbolo, o Pranava (OM); 
“2) – O trabalho de ensinar é instilar nos outros a excelência de ver tudo com atitude equânime; 
“3) – Sacrifício é a atitude que permite ao aspirante ficar face a face com seu próprio Eu Superior, como também com o Supremo Ser; 
“4) – A condução de um sacrifício para outrem é a visão de Si Mesmo em toda parte; 
“5) – Dar é a entrega do Eu a Brahman através da Meditação no Absoluto (Śuddha-Yoga); 
“6) – Receber nada mais é que preservar o corpo, com o propósito de observar o Dharma.” 

Manifestamente, o objetivo da divisão da Gita em grupos de seis capítulos é lembrar aos aspirantes à Liberação que, entre outras coisas, estes são os deveres peculiares dos quais eles são incumbidos. 

Nenhuma referência foi feita, até agora, sobre a razão da introdução, pelo Autor, do primeiro e do vigésimo sexto capítulos, e sua ligação com o corpo de vinte e quatro capítulos ligados entre si e dispostos em quatro grupos.

 A explicação óbvia é que a Gáyatri nunca pode permanecer por si mesma, mas somente em relação com o Pranava, que é sua única base e suporte. Na prática real, o Mantra de vinte e quatro sílabas (a Gáyatri) é formado com um “OM” no início, isto é, antes da sílaba “TAT”, e outro no final, após a sílaba “YAT”. Os dois “OM” representam Brahman, o substrato dos vinte e quatro fatores primários (Tatwas), aos quais os vinte e quatro capítulos correspondem. O “OM”, no início e no fim, significa que Brahman é a Fonte da qual os fatores emergem e à Qual retornam, sintetizados neste real Brahman. Tudo isto se torna inteiramente claro pelos respectivos conteúdos dos dois capítulos citados (primeiro e vigésimo sexto). 

No primeiro capítulo, sem dúvida, é dada preeminência somente ao Aspecto Shakti de Brahman, porque Ela é a “Maha-Chaitanyam”, a única Vida no inteiro Cosmo, levando a cabo o infinito processo evolucionário do mesmo. 

Outra razão para esta preeminência é que é a “Maha-Chaitanyam” que todos devem invocar, no sentido de que o sucesso coroe seus empreendimentos. O mesmo foi mostrado por Krishna aconselhando Arjuna a oferecer adoração à DURGA5 para obter sucesso, quando Bhishma, o generalíssimo dos Kurus (ou Kauravas), soprou sua concha como real declaração de guerra. O conteúdo do capítulo vinte e seis (Brahma-Stuti, ou Louvor a Brahma) é mais claro sobre o assunto. Neste, Arjuna oferece mais uma vez adoração a Brahman (manifestado em Krishna), após a conclusão do Discurso de Krishna (a Gita), porém, desta vez, sem especial referência a algum Aspecto limitado d’Ele. (Cap. XXVI, vs. 32 a 48). 

Com referência ao nome sugestivo, “Gitavatara Adhyaya” (A Gênese da Gita), com o qual o primeiro capítulo é denominado, interessará aos leitores observar as várias circunstâncias cruciais nas quais esta Escritura (a Gita) teve seu aparecimento. 

Foram elas as seguintes: Era o dever de Naráyana, como Supremo Diretor da Hierarquia Oculta de nosso Globo, dispor para que a Kali-Yuga tivesse o menor grau possível de comoção e perturbação que o período de transição permitisse. 

Nesse sentido, o Senhor enviou um Raio de Si Mesmo através da Personalidade de Krishna, para fazer o que fosse necessário e imediato. 

De maneira semelhante, Nara, o Primeiro Ministro do Senhor, foi orientado para enviar (e Ele enviou) um Raio Seu para atuar na Personalidade de Arjuna. Esses dois Avataras cumpriram completamente a Missão que lhes fora designada. 

Por fim chegou o momento certo para o desempenho de Sua mais alta finalidade, a de dar a Mensagem final à humanidade que deveria evoluir na Nova Era. 



Esta mensagem foi revelada no mais importante encontro, durante a última reunião do Parlamento de Nações (se assim pode ser descrito), no qual seriam decididas questões de grande importância naquela época, questões que afetavam a própria segurança do mundo e a felicidade da humanidade. 

Entre elas estavam questões como as que seguem: – Estariam os Panchalas deixados ao sabor das forças dominantes do então Super-Homem Duryodhana? Seria a futura civilização completamente materialista, e forças brutas governariam o homem? Ou a Justiça e a Espiritualidade iriam ter uma chance de reinar na terra? Numa palavra, haveria paz ou guerra? Tal era a conjuntura crítica quando a Mensagem final (a Gita) foi dada. 

A situação foi controlada com maravilhoso tato e discernimento; os argumentos dos pacifistas foram afastados: o dever de combater em nome de uma causa justa foi declarado válido e, a fim de que a vontade do Supremo fosse feita e a futura evolução da humanidade pudesse seguir seu curso tranqüilamente rumo ao objetivo determinado, o caminho a ser trilhado por ela, na Era vindoura, estava marcado com a Sabedoria infalível d’Ele, o Qual veio em obediência à Lei que governa o mundo. (Veja o resumo da história do Mahabhárata nesta primeira parte do livro.) 

A Gita é o registro desta gloriosa Mensagem que foi, desde então, considerada como a verdadeira “Alma Vital” dos arianos, para os quais foi especialmente destinada, e que foi preservada durante muitíssimos séculos pelo ramo hindu-ariano, para benefício do mundo inteiro. 

Para resumir em poucas palavras o esquema do Autor, descrito anteriormente com detalhe, poderia ser usada uma simples fórmula numérica para transmitir certos grandes fatos ligados à evolução humana, desde o momento em que o Divino Fragmento (a Divina Centelha ou Mônada – “Mamaivamsa”, na linguagem de Sri Krishna) desce à Matéria, iniciando Sua jornada pelo arco descendente, ou Pravritti-Marga, até que alcança o arco ascendente, ou Nivritti-Marga, a outra extremidade da viagem, tornando-Se livre de novo. A fórmula é: “0 - 4 - 6 - 24 - 0” 6.

 O algarismo “4” representa os quatro estados da matéria, diferindo em densidade, através dos quais o Ego evolucionante faz sua viagem, sendo seus nomes: “Sthula”, o grosseiro; “Sukshma”, o sutil; “Kârana”, o causal; e “Turiya”, o quarto (o mais elevado). – O algarismo “4” indica também as diferentes fases ou estados de consciência do Ego nos acima mencionados planos da Matéria, sendo os nomes destes estados: “Jagrat”, “Swapna”, “Sushupti” e “Turiya”; porém, os termos equivalentes ingleses não expressam seu significado real. 

O algarismo “6” representa certas atividades mais essenciais e importantes, ou trabalhos do Ego durante sua evolução, e são: 
1 – Educação de si mesmo; 
2 – Educação de outros; 
3 – Como resultado dos dois anteriores, segue o sacrifício de centrar-se em Si Mesmo; 
4 – Substituição da força motivadora do serviço em benefício do mundo pelo Centro assim sacrificado; 
5 – Rendição do Ego Individual à sua Fonte, Brahman, o Qual o conduz à Liberação; 
6 – Aceitação voluntária da limitação na forma de um corpo humano, ou das vestimentas mais sutis de Nirmana-kaya, Sambhoga-kaya, Dharma-kaya e semelhantes, pelo Espírito liberado, no intuito de ajudar Egos menos desenvolvidos, em direção à sua Liberação. 

O número 24 representa o resultado total do processo evolutivo completo – os 24 Tatwas. 

Os zeros em cada extremidade da fórmula representam Brahman, que só pode ser conhecido pelo processo de eliminação de “Neti-Neti” = Isto não, isto não. Isto é equivalente a dizer que Brahman é “isto não, isto não”, para nós.

 Assim, zero é o melhor símbolo matemático para o predicado “Eu, isto não sou”, o qual, contudo, não pode ser considerado como Plenitude.

 De qualquer forma um tal predicado é, “ex-hypothesis”, incapaz de ser afetado por qualquer coisa que nele evolua.

 Assim temos a palavra da Escritura: “Purnam adah, purnam idam, purnat purnam udachyatê, purnasya purnam adaya purnam êva avasishyatê”, isto é, “Aquilo é pleno e isto é pleno; d’Aquela Plenitude se origina esta plenitude; tirando esta plenitude d’Aquela Plenitude, o que resta é ainda pleno”. 

Daí o uso de zeros em ambas as extremidades da fórmula, que é como deve ser. 

Tendo-se assim discutido o principal aspecto da divisão e organização em questão (da Gita), é desnecessário acrescentar que tudo o que foi dito aqui se ocupa com apenas pequena parte do princípio expressado pelo Autor, abrangido por seu esquema.

O que o falecido Sr. T. Subba Row observa, em relação à tábua dos Doze Signos do Zodíaco, é muito provável que seja verdadeiro também neste esquema.

 A chave tem que ser girada sete vezes para revelar o que ele contém, mas isto deve ser deixado para mãos competentes. 

Observando o conteúdo da Escritura podemos dizer, sem exagero, que a Gita, tal qual foi apresentada nas edições correntes, tem sido até agora, em mais de um sentido, um “quebra-cabeça” e um enigma.

 É fascinante, mas elude solução real. Além disso, isto coloca, como tem acontecido, formidáveis paladinos um contra o outro, como, por exemplo, no caso mais recente do moderno, forte e bondoso Tilak contra Shankara, o ancião venerável e hábil, de fama mayávica. 

Entretanto, de acordo com a disposição seguida por Hamsa-Yogue e reproduzida aqui, acredita-se que a Escritura será considerada como sendo realmente uma revolução para os estudantes sérios, pois a seqüência notável de pensamentos que se encadeiam através dos capítulos, e a coerência lógica que caracteriza a relação entre cada capítulo precedente com o subseqüente, darão a luz necessária para uma firme compreensão das grandes idéias diretrizes a serem levadas ao estudante.

 Com esta compreensão, alcançada através da visão real do sentido de cada capítulo, um estudo dos mesmos, com o auxílio dos comentários e explanações inestimáveis de Hamsa-Yogue, não poderá ser senão do maior proveito para todos aqueles que forem capazes de superar o possível preconceito devido ao fato de que a disposição e comentários em questão não tivessem sido conhecidos até agora ampla e publicamente.

 Como se pode notar, Hamsa-Yogue se baseia, em muitos pontos, em interpretações de outros comentários. 

Porém não é possível entrar aqui em quaisquer considerações sobre tais fontes de referência. 

Entretanto, para ilustrar este assunto, prestamos atenção ao sentido dado por Hamsa-Yogue a dois termos significativos que são usados freqüentemente na Gita, a saber: Aham e Mam.

 Em mais de um versículo ambos os termos são entendidos por Ele (Hamsa-Yogue) como inaplicáveis, na verdade, a Sri Krishna. 

O Primeiro termo (Aham) deve ser interpretado como o Átman, o Ser, que é imanente em tudo, e o segundo (Mam), como a Shakti de Brahman.

 A correção e racionalidade absoluta de ligar tais significados aos dois importantes termos citados estão bem claros no famoso versículo que é a conclusão do Diálogo (a Gita), e que tem sido fonte de muita controvérsia entre os seguidores de vários credos. 

Vejamos a seguir, numa paráfrase livre, com uma ou duas palavras explicativas adicionadas à interpretação do versículo de Hamsa-Yogue: “Abandone todas as idéias e ações engendradas pela grande Ilusão, a heresia da Separatividade; busque a Graça da Shakti de Brahma9 e, através d’Ela, ligue-se e mantenha-se no Uno, a Suprema Síntese de tudo. 

E então o ‘Eu’ o salvará da miséria e do sofrimento causados pelas ilusões, os quais são o fruto desta heresia.”

 É inquestionável que esta interpretação é a única mais condizente com as grandes verdades subjacentes em todos os Ensinamentos dos Upanishads, dos quais a Gita tem sido corretamente considerada como a “fina-flor”, pois, para o intelecto que busca honestamente a causa de toda a existência condicionada nenhum descanso é possível, a menos que seja compreendido que todos os fenômenos cambiantes e intermináveis não são senão manifestações da imutável e eterna “Causa sem causa” – o “Movedor imóvel” (de Leibnitz), o Absoluto. 

E, conseqüentemente, somente quando a Alma se centra em si mesma, sem reservas, como se fosse naquele Absoluto, está no caminho certo. Este é o preceito para alcançar o Uno, o Absoluto, no Qual tudo é sintetizado. 

Quanto à busca da Graça da Shakti (a Energia Divina, como Divina Mãe), a razão é que Ela é o caminho para atingir a Meta, de acordo com os princípios do Śuddha Dharma Mandalam, o que reflete um antigo Ensinamento, como foi tentado mostrar no Prefácio ao “Yoga Dípika”, páginas 23 e 24 (do livro original). 

Como confirmação do que estamos insistindo, seria bastante oportuno destacar a oração que todo ariano tem obrigação de dirigir a esta Shakti ao nascer e ao pôr do sol, quando ele começa a meditar em Sua adorável e divina Luz, que a princípio queima toda impureza, todo mal, e depois o ilumina: “Vareniyam bhargô devasya”. 

Veja os termos desta invocação começando com “Ayatu Varada Devi”, e pondere se eles não trazem o mais forte apoio à posição tomada pelo comentarista neste assunto: — “Vem Tu, ó Deusa que aceita nossas orações! Tu és a Imperecível, a igual de Brahman. Ó Gáyatri!, Mãe das Métricas, aceita este cântico védico e nossa invocação. Tu és o Elemento Vital, o poder de persistência, coragem e força em nós; Tu és Radiância; Tu és a Morada dos Iluminados e sua adorada; Tu és tudo e a vida de tudo; Tu és todas as coisas, e a vida de todas as coisas; Tu és a Vencedora e a Subjugadora! — OM.” 

– Os vários nomes pelos quais a Deusa é invocada, mostram a relação oni-abarcante na qual Ela Se encontra no Universo como um todo, e para cada um de Seus devotos.

 – Ela é Savitri, a Geradora e a Mãe. 
Ela é Saraswati, a Instrutora e Outorgadora do Conhecimento e da Sabedoria;
 Ela é Gáyatri, Aquela que possibilita ao adorador que canta orações védicas para Ela, atravessar o limiar da escravidão para alcançar a Liberação. – Como pode alguém questionar a exatidão da interpretação do termo Mam que o comentarista (Hamsa-Yogue) adotou? 

Finalmente, quanto à explicação do comentarista para o termo Aham, tomando este como sinônimo do Eu Universal, do ponto de vista meramente gramatical, Hamsa-Yogue tem a autoridade decisiva da própria Gita, como, por exemplo, no versículo seguinte: “AHAM, ó Gudakesha!, é o Ser eternamente presente no coração de todos os seres. Aham é o começo, o meio, e também o fim de todos os seres.” 

Novamente, afirmando que este Eu é a única fonte de salvação para todos, o comentarista toma a única posição admissível, pois ninguém pode negar que a salvação só pode vir de dentro, do Ser no coração, e de nenhuma outra fonte.

 Em nenhum lugar isto está mais explicitamente colocado que no versículo a seguir: “Têsham êva anukampârtham aham gñânajam tamah nâsayâmy âtmabhâvasthô gñâna dipêna bhâsvatâ. = Portanto, por compaixão, Eu, o Ser (Aham), destruo a escuridão e as ilusões nascidas da ignorância, por meio da Luz da Lâmpada da Sabedoria que existe em teu próprio Ser.” 

– Este fato é tão importante – o de que a salvação vem de dentro – que é muito difícil de compreender. 

No “Kathôpanishad” IV.1, temos: “Kascit dhirah pratyagátmanam aikshat, âvrtta chakshur amrtatvamichchan”, isto é: – “É verdadeiramente raro o Sábio que, buscando a imortalidade, e com os olhos voltados para dentro (isto é, a atenção), anela com fervor o Pratyagátman.”

 E é por isso que os Instrutores do Mundo se esforçaram, em todos os tempos, para inculcar na humanidade a ideia de que a salvação de cada homem está em suas próprias mãos. 

Em um relato maravilhoso (escrito em forma de novela), um grande Ser sofreu a tragédia que toda alma deve suportar, mais cedo ou mais tarde, para alcançar a Iluminação.

 Esta traz consigo a Paz que ultrapassa o entendimento, e é o ponto vital que, de uma forma ou de outra se expressa em palavras, e estas, uma vez lidas ou ouvidas, não podem jamais ser esquecidas. Após sua Iniciação e admissão na Grande Fraternidade Branca, a qual está sempre voltada para o serviço do mundo, o Sacerdote que atuou na ocasião como Hierofante se dirigiu ao herói da história com estas palavras: 
— “Escuta-me, irmão meu, há três verdades absolutas que não podem ser perdidas, mas que podem permanecer ignoradas por falta de expressão: 
“A Alma do homem é imortal, e seu porvir é o de algo cujo desenvolvimento e esplendor não têm limite. 

“O Princípio doador de Vida Espiritual está em nós e fora de nós; é imortal e eternamente benéfico; está além dos sentidos físicos, porém só é percebido pelo homem que deseja a percepção. 

“Cada homem é seu próprio e absoluto legislador e o dispensador de glória ou de obscuridade para si mesmo, aquele que decide sobre sua própria vida, sua recompensa e seu castigo. 

“Estas verdades, que são tão grandes como a própria Vida, são tão simples como a mais simples das mentes humanas. Alimenta com elas os famintos. Adeus!” (The Idyll of the White Lotus, pgs. 183-184, 3a edição) (“O Idílio do Lótus Branco”). 

Sendo assim, Hamsa-Yogue não pôde senão ter explicado o termo “AHAM” como o fez, porque seu comentário está destinado aos estudantes plenamente capazes de seguir os Ensinamentos Ocultos das Escrituras. 

As linhas que concluem o último parágrafo mostram que não houve intenção de sugerir que os comentaristas, que tomaram as duas palavras “AHAM” e “MAM” como referentes a Sri Krishna, o fizeram sem autoridade, pois tais termos admitem tal interpretação. Também não é difícil entender o motivo pelo qual aparecem palavras capazes de tal dupla interpretação, tanto nesta como em outras Escrituras similares. A simples razão é que todos podem se beneficiar com os Ensinamentos na medida em que o desenvolvimento de cada um o permita. Neste caso, por exemplo, embora a interpretação de Hamsa-Yogue se destine somente aos estudantes avançados, para aqueles que ainda não podem elevar-se à concepção da Divindade como impessoal esta interpretação pode ser feita de outro modo. 

Uma outra justificativa para o emprego do termo “AHAM”, o qual compreende aquele que fala, e que é o Avatara (Krishna) de um lado, e o Eu Universal do outro, é que o Primeiro se exprime, através do Discurso, somente em nome do Último, o Supremo Instrutor. 

Na interpretação do comentarista comum isto não pode resultar em nenhuma concepção errônea, se a Personalidade representativa do Avatara, ao qual acabamos de nos referir, for mantida firme na mente.

 Entretanto tal não é o caso, devido à concepção equivocada que prevalece amplamente a respeito de Quem foi, em verdade, Sri Krishna. É bem estranho que Ele seja considerado como Avatara direto do próprio Paramátman. Ninguém que reflita por um momento que nosso globo não é mais que uma partícula infinitesimal de um minúsculo sistema do Universo entre os incontáveis milhões de sistemas solares no espaço infinito, deixaria de rejeitar como absurda a ideia de que, para propagar neste minúsculo ponto (o Planeta Terra) os Ensinamentos da Gita (no princípio do ciclo chamado Kali-Yuga), não haveria aqui ninguém capaz de manifestar a Divindade, que está imanente em toda a Natureza, tendo Ela própria que descer e fazer o simples trabalho que é dever do Chefe da Hierarquia Oculta de nosso Globo. 

Esta ideia revela a colossal ignorância sobre a Natureza dessa inefável Presença Universal. 

Seja lá como for, ultrapassa nossa compreensão de como tal noção errônea continua a ser sustentada por muitos, apesar das repetidas e bem diretas declarações, em muitas partes do Mahabhárata, de que Arjuna e Krishna foram somente Avataras de Nara e Naráyana. 

– Prosseguindo nesta visão da real natureza dos dois Avataras, Hamsa-Yogue (em seu Comentário) tomou o cuidado de esclarecer a confusão que igualmente poderia surgir com relação a Arjuna na mente de estudantes superficiais. A relutância de Arjuna em lutar (apesar de seu dever de o fazer), e a confusão mental e esquecimento de seus deveres, dos quais ele padecia naquele momento, fato que foi demonstrado por ele mesmo durante o Diálogo (a Gita), parecem ser totalmente contrários à Sabedoria e Conhecimento que não poderiam senão pertencer a ele como Avatara de Nara, o Maharishi, sempre empenhado em Tapas (Austeridades), companheiro fiel do próprio Naráyana.

 Esta aparente contradição é esclarecida por Hamsa-Yogue, mostrando que Nara era o Representante da Humanidade e seu Porta-Voz, e que, conseqüentemente, tudo em Sua própria e gloriosa natureza pessoal deve ser entendido (neste drama) como reflexo daquilo que é verdadeiro apenas para a alma não Iniciada, defrontada com a ignorância e com julgamentos inevitáveis em um período crítico como o de transição entre o fim de um grande ciclo e o começo de outro. Nesse sentido, entretanto, poderia ser perguntado: – Por que o Autor fez o Poderoso Maharishi (Nara) Assistente de Naráyana aparecer no aspecto aparentemente anômalo em que ele foi apresentado no Divino Colóquio? 

A resposta é que isto foi parte do mui feliz plano do Autor, adotado para levar a efeito seu objetivo de dar ao povo, para o qual ele escreveu, uma mensagem familiar – um objetivo que poderia não ser atingido se a Gita fosse uma mera complicação árida de metafísica oculta.

 Então, o que foi que mais contribuiu para que o objetivo do Autor fosse alcançado, do que a maneira em que ele colocou os caracteres dos dois Personagens principais? 

Arjuna, sendo bravo guerreiro e príncipe, recusa-se ignobilmente a lutar no momento mais crítico, e cai num estado de profundo desespero (que só poderia causar piedade a todos), e Krishna, seu parente e amigo de longa data, e também seu Mestre, o traz a Si gradualmente, por amor e compaixão, por meio de infinita paciência do princípio ao fim, reanimando seu espírito através de constantes e elevadas alusões às suas principais qualidades e características reais, compreendidas nos bem escolhidos títulos que lhe dá durante todo o tempo em que ele está imerso em mistérios metafísicos. Seguramente tal retrato dramatizado destes dois Personagens é que empresta ao Livro dos Livros o perene interesse humano que o fez motivo de orgulho da humanidade por milênios, sendo isto a maior contribuição para que o objetivo do Autor fosse alcançado. Para observar tão notável aspecto de tal composição, seria lastimável esquecer seu lado artístico (como drama), e certamente o mérito é de Hamsa-Yogue por ter chamado a atenção para este aspecto, ainda que indiretamente, mostrando que não poderia haver nenhum motivo para falsa interpretação (na mente do estudante) por causa do comportamento de Arjuna durante o Diálogo, levando-se em conta que tal comportamento foi apenas no caráter de “jana-pravâdaka”, isto é, de porta-voz e advogado do povo, papel que Arjuna deveria assumir no drama. 

Voltando desta pequena digressão, deve ser observado que esta visão dos dois Avataras, confirmada pelo Mahabhárata é, como já foi dito, a única aceita por Hamsa-Yogue. 

Seu comentário pode ser apreciado melhor por estudantes que concordem com ele, do que por aqueles que divergem dele neste ponto; conseqüentemente, os primeiros perceberão muito mais aquilo que é original, iluminante e sempre em consonância com a razão nas pesquisas do comentarista.

 Os leitores desta edição (1917) verão que o Karika (ou comentário) de Gobhila, anexo ao texto, contém uma notavelmente clara e sucinta explanação da substância de cada um e de todos os capítulos, de acordo com a disposição adotada nesta Gita. Além disso, este Karika se tornou digno de confiança devido ao comentário de Hamsa-Yogue, e constitui uma valiosa introdução ao estudo do próprio comentário.

Nos cinqüenta e dois versículos, começando a partir do 180º até o final do Karika, Gobhila esclarece certas circunstâncias que de outra forma não seriam notadas. 

De acordo com seu ponto de vista, o primeiro grupo de seis capítulos constitui o “Gñana”, ou grupo Conhecimento; o segundo, o “Ichchha” ou Sankalpa, ou grupo Desejo (ou Vontade); o terceiro, o “Karma” (ou Kriya), ou grupo Atividades; e o quarto e último, o “Yoga” ou Samahara, ou grupo Síntese. Além disso ele mostra que o vigésimo quinto capítulo (o penúltimo), resume o conteúdo dos vinte e quatro capítulos precedentes em ordem regular, isto é: o primeiro versículo deste penúltimo capítulo trata do primeiro dos vinte e quatro capítulos, ou seja, do “Nara-Naráyana Dharma Gita”; o segundo versículo trata do “Avatara Dharma Gita”; o terceiro, do “Adhikara Dharma Gita”, e assim por diante, até o vigésimo quarto versículo, que trata do “Yoga Dharma Gita”. Finalmente Gobhila mostra que o vigésimo sexto e último capítulo é a própria essência do Ensinamento de toda a Obra.

 As circunstâncias intrínsecas trazidas à luz por Gobhila não podem senão provar que este livro ariano de Revelação veio das mãos sobre-humanas que o escreveram, exatamente como Gobhila esclareceu, e como ele é levado ao conhecimento do público pela primeira vez, nesta edição. 

Entre as declarações de Gobhila, em seu excelente compêndio, os quatro pontos básicos mais interessantes são particularmente marcantes. Antes de tudo as afirmações relacionadas com o polêmico assunto de “Maya” merecem referência.

De acordo com as opiniões de pensadores de grande categoria, entre os quais Gobhila ocupa uma alta posição, não há irrealidade naquilo que é denominado “Maya”.

 Este é um Poder de Brahman, tão real como Seus outros Poderes. É este Poder que vincula o não-nascido, imperecível e imutável Ser aos sempre cambiantes veículos materiais, onde este Ser passa por experiências de dupla natureza, tais como as opostas de prazer e dor, e outras dualidades. 

Este Poder se manifesta de três maneiras diferentes chamadas Daivi-Maya, Esha-Maya e Gunamayi-Maya. 

A primeira, Daivi, é aquela que se relaciona com o Paramátman, e é o Aspecto com o qual Seu trabalho no Cosmo é executado, do ponto de vista material. 

É neste Aspecto do Poder que Mahatmas, que alcançaram a Liberação, habitam e adoram a Suprema Causa de Tudo. 

– A segunda, Esha, é o instrumento que serve especialmente aos grandes propósitos dos Hierarcas e de Seres ainda mais elevados que, tendo atingido a proximidade a Brahman, Se manifestam como Avatara-Purushas, para proteção da Retidão e o restabelecimento do Dharma, etc., nos mundos. 

Hamsa-Yogue explica, no decurso de Seus comentários, que foi na forma de Esha-Maya do Senhor que Arjuna viu a cena de Visvarupa (a Visão Cósmica), tão maravilhosa e admirável, tão terrível e inspiradora de respeitoso temor, que o levou a desistir de continuar a testemunhá-la (com a visão divina a ele concedida por um momento) e implorar, com temor, ao Avatara (Krishna) para suspender a cena e voltar à Sua encantadora e bela forma humana. 

– A terceira, Gunamayi, se relaciona com todos aqueles cuja evolução humana está ainda em desenvolvimento e virão a se colocar em uma ou outra das quatro divisões: Gñani, Bhakta, Karmatha e Yogue. É esta Gunamayi-Maya que dá origem a quatro classes de Shraddhas ou tendências e disposições. Aquela que é gerada pelo elemento Sátwico, é chamada “Satwa” ou “Atma-Para-Shraddha”. Esta envolve devoção ao Eu Superior, que é o Raio Átmico em cada um. – “Rajas” ou “Samsara-Para-Shraddha”, manifesta um forte desejo de viver a vida material externa.

 – “Tamas” ou “Svapara-Shraddha” induz à completa identificação com a natureza inferior, acompanhada de completo não reconhecimento do Ser. – Por último, “Turiya” ou “Maha-Shraddha” é a sintetizante, a base das outras três e a mais alta.

 A transcendência da influência da Gunamayi-Maya é o atingimento de Prâpti (Liberação), o quinto e o mais alto dos Purushartas (ou finalidades humanas). 

Embora o Poder em questão (Maya, como Gunamayi) seja, em primeiro lugar, a causa da ignorância e das ações dela resultantes, mais tarde Ele (o Poder) finalmente leva ao verdadeiro conhecimento o homem que estuda Sua atuação nele mesmo e no mundo em torno dele, isto é, no Samsara (processo evolutivo do Jiva), o qual pode ser considerado como o maior instrutor. E é somente através de tal estudo (do Samsara) e do resultante conhecimento dos atributos do Ser, que a influência da Gunamayi-Maya pode ser dominada. Em relação com tal domínio, umas poucas observações a mais parecem ser necessárias, mesmo que possam ser consideradas triviais. 

Este fato se refere à capacidade do homem de atrair ou repelir, por escolha, os elementos atômicos dos quais Gunamayi-Maya é formada. 

Por exemplo, no momento em que se permite que um pensamento de natureza viciosa entre na mente, precipitam-se nela átomos e moléculas tamásicas ou rajásicas que conduzem à gratificação e satisfação desse pensamento. Mas se a atenção for afastada dele e dirigida ao bem, que é o oposto de tal pensamento, esses átomos e moléculas necessariamente caem, e átomos e moléculas sátwicos tomam seu lugar.

 Disso se conclui que o mais efetivo caminho para subjugar Gunamayi-Maya é cultivar o hábito de exercitar a vontade, constante e firmemente, dia após dia, mês após mês, ano após ano, evitando permanentemente pensamentos e emoções pertencentes à nossa natureza inferior e permanecer sempre no alto, no puro e no belo. 

Por mais difícil que possa parecer o cultivo de tal hábito, a prática revelará seu supremo valor.

 Com o desenvolvimento de tal prática, a Mente se torna cada vez mais firme, e quando ela se aquieta, durante a meditação, a luz do Ser brilha e a conduz àquela calma imperturbável, fonte de eterna fortaleza.

 O homem afortunado que dirige e regula sua vida, é gradualmente capaz de realizar a dourada verdade tão admirável e impressionantemente expressa no Mundaka-Upanishad, II, v. 8: – “O nó do coração é rompido, todas as dúvidas são destruídas, e os efeitos de ações passadas são extintos quando é contemplado este Purusha, acima do Qual não há ninguém mais alto.” – O aspirante que chegar a realizar esta verdade é sempre amado pelo Aspecto do Poder de Brahman descrito como Gáyatri, a Salvadora, que nunca falha em elevá-lo. O Senhor (Krishna) fala sobre este Aspecto (a Brahma-Shakti) na Gita, como Daivi-Prakriti ou “o Para”.

 Ela tem muitos outros nomes, sendo que Gobhila recorre a alguns deles nos versículos 97 e 98: MA, Maheshwari, Saraswati, Maha-Lakshmi, Durga, Kali, Dakshina, Shri-Vidya e Yoga-Vidya. Ele acrescenta que o Yogue, sempre adorando este Brâhmico Esplendor (isto é, a Divina Mãe Cósmica), atinge a paz e a serenidade. Ela é a Outorgadora de todo poder espiritual em todos os universos. 

Aqueles que têm na mente as respectivas funções dos dois Aspectos do Poder Brâhmico (o Veículo Material e a Vida), tão bem analisados por Gobhila, acharão certamente o problema da vida menos obscuro. 

A seguir, a descrição de Gobhila do termo “Sannyasa” (renúncia) merece verdadeira atenção.

 De acordo com ele, o verdadeiro Sannyasin é aquele que, sendo devoto do Ser Supremo, faz tudo persistentemente em relação com o girar da roda da Vida, com a convicção inabalável de que toda ação feita por ele é, deixando de lado todos os motivos pessoais, tão indispensável e correta como a necessária conseqüência do fato inexorável de que não há qualquer acaso no Cosmo, e que todas as coisas que existem nele têm sua origem na própria natureza do Absoluto. 

Ao contrário, aquele que, apesar de sujeitar-se a privações corporais e penitências, atua impulsionado pelo desejo de gozar os frutos de ações capazes de produzir prazer e dor, é considerado inferior; e aquele que negligencia seus deveres relativos à roda da Vida (processo evolutivo mundanal ou Samsara), é considerado mais inferior ainda. 

Seria bom que as sábias opiniões referidas acima fossem mais compartilhadas neste país (Índia), e que a noção de que trajar um “manto amarelo” e levar uma vida de relativa indolência são caminhos de emancipação, tivesse um fim. 

Continuando, as explicações relativas aos termos Sarupya, Sayujya, Salokya e Samipya-Mukti fornecem abundantes bases para reflexão por parte dos estudantes que estejam realmente ansiosos por obter idéias precisas relacionadas com os significados destes termos. 

Gargyayana, no “Pranava-Vada”, toma estes termos em relação ao Cosmo de maneira abstrata e explica-os deste ponto de vista absolutamente amplo.

 Gobhila, entretanto, se restringe ao nosso próprio sistema mundial (Samsara) e baseia sua explicação nas relações fundamentais existentes entre os três fatores universais de Kriya (Atividade), Ichchha (Desejo), e Gñana (Conhecimento). Ele mostra que “Sarupya-Mukti”, tão maravilhosa e admirável, tão terrível e inspiradora de respeitoso temor, que o levou a desistir de continuar a testemunhá-la (com a visão divina a ele concedida por um momento) e implorar, com temor, ao Avatara (Krishna) para suspender a cena e voltar à Sua encantadora e bela forma humana. 

– A terceira, Gunamayi, se relaciona com todos aqueles cuja evolução humana está ainda em desenvolvimento e virão a se colocar em uma ou outra das quatro divisões: Gñani, Bhakta, Karmatha e Yogue. É esta Gunamayi-Maya que dá origem a quatro classes de Shraddhas ou tendências e disposições. Aquela que é gerada pelo elemento Sátwico, é chamada “Satwa” ou “Atma-Para-Shraddha”. Esta envolve devoção ao Eu Superior, que é o Raio Átmico em cada um. – “Rajas” ou “Samsara-Para-Shraddha”, manifesta um forte desejo de viver a vida material externa. – “Tamas” ou “Svapara-Shraddha” induz à completa identificação com a natureza inferior, acompanhada de completo não reconhecimento do Ser. – Por último, “Turiya” ou “Maha-Shraddha” é a sintetizante, a base das outras três e a mais alta.

 A transcendência da influência da Gunamayi-Maya é o atingimento de Prâpti (Liberação), o quinto e o mais alto dos Purushartas (ou finalidades humanas). 

Embora o Poder em questão (Maya, como Gunamayi) seja, em primeiro lugar, a causa da ignorância e das ações dela resultantes, mais tarde Ele (o Poder) finalmente leva ao verdadeiro conhecimento o homem que estuda Sua atuação nele mesmo e no mundo em torno dele, isto é, no Samsara (processo evolutivo do Jiva), o qual pode ser considerado como o maior instrutor. 

E é somente através de tal estudo (do Samsara) e do resultante conhecimento dos atributos do Ser, que a influência da Gunamayi-Maya pode ser dominada.

 Em relação com tal domínio, umas poucas observações a mais parecem ser necessárias, mesmo que possam ser consideradas triviais. 

Este fato se refere à capacidade do homem de atrair ou repelir, por escolha, os elementos atômicos dos quais Gunamayi-Maya é formada. Por exemplo, no momento em que se permite que um pensamento de natureza viciosa entre na mente, precipitam-se nela átomos e moléculas tamásicas ou rajásicas que conduzem à gratificação e satisfação desse pensamento.

 Mas se a atenção for afastada dele e dirigida ao bem, que é o oposto de tal pensamento, esses átomos e moléculas,
necessariamente caem, e átomos e moléculas sátwicos tomam seu lugar. 

Disso se conclui que o mais efetivo caminho para subjugar Gunamayi-Maya é cultivar o hábito de exercitar a vontade, constante e firmemente, dia após dia, mês após mês, ano após ano, evitando permanentemente pensamentos e emoções pertencentes à nossa natureza inferior e permanecer sempre no alto, no puro e no belo. 

Por mais difícil que possa parecer o cultivo de tal hábito, a prática revelará seu supremo valor.

 Com o desenvolvimento de tal prática, a Mente se torna cada vez mais firme, e quando ela se aquieta, durante a meditação, a luz do Ser brilha e a conduz àquela calma imperturbável, fonte de eterna fortaleza. 

O homem afortunado que dirige e regula sua vida, é gradualmente capaz de realizar a dourada verdade tão admirável e impressionantemente expressa no Mundaka-Upanishad, II, v. 8: – “O nó do coração é rompido, todas as dúvidas são destruídas, e os efeitos de ações passadas são extintos quando é contemplado este Purusha, acima do Qual não há ninguém mais alto.” – O aspirante que chegar a realizar esta verdade é sempre amado pelo Aspecto do Poder de Brahman descrito como Gáyatri, a Salvadora, que nunca falha em elevá-lo. O Senhor (Krishna) fala sobre este Aspecto (a Brahma-Shakti) na Gita, como Daivi-Prakriti ou “o Para.” Ela tem muitos outros nomes, sendo que Gobhila recorre a alguns deles nos versículos 97 e 98: MA, Maheshwari, Saraswati, Maha-Lakshmi, Durga, Kali, Dakshina, Shri-Vidya e Yoga-Vidya. Ele acrescenta que o Yogue, sempre adorando este Brâhmico Esplendor (isto é, a Divina Mãe Cósmica), atinge a paz e a serenidade. 

Ela é a Outorgadora de todo poder espiritual em todos os universos. Aqueles que têm na mente as respectivas funções dos dois Aspectos do Poder Brâhmico (o Veículo Material e a Vida), tão bem analisados por Gobhila, acharão certamente o problema da vida menos obscuro. 

A seguir, a descrição de Gobhila do termo “Sannyasa” (renúncia) merece verdadeira atenção.

 De acordo com ele, o verdadeiro Sannyasin é aquele que, sendo devoto do Ser Supremo, faz tudo persistentemente em relação com o girar da roda da Vida, com a convicção inabalável de que toda ação feita por ele é, deixando de lado todos os motivos pessoais, tão indispensável e correta como a necessária conseqüência do fato inexorável de que não há qualquer acaso no Cosmo, e que todas as coisas que existem nele têm sua origem na própria natureza do Absoluto. 

Ao contrário, aquele que, apesar de sujeitar-se a privações corporais e penitências, atua impulsionado pelo desejo de gozar os frutos de ações capazes de produzir prazer e dor, é considerado inferior; e aquele que negligencia seus deveres relativos à roda da Vida (processo evolutivo mundanal ou Samsara), é considerado mais inferior ainda. Seria bom que as sábias opiniões referidas acima fossem mais compartilhadas neste país (Índia), e que tivesse um fim a noção de que trajar um “manto amarelo” e levar uma vida de relativa indolência são caminhos de emancipação. 

Continuando, as explicações relativas aos termos Sarupya, Sayujya, Salokya e Samipya-Mukti fornecem abundantes bases para reflexão por parte dos estudantes que estejam realmente ansiosos por obter idéias precisas relacionadas com os significados destes termos.

 Gargyayana, no “Pranava-Vada”, toma estes termos em relação ao Cosmo de maneira abstrata e explica-os deste ponto de vista absolutamente amplo.

 Gobhila, entretanto, se restringe ao nosso próprio sistema mundial (Samsara) e baseia sua explicação nas relações fundamentais existentes entre os três fatores universais de Kriya (Atividade), Ichchha (Desejo), e Gñana (Conhecimento). Ele mostra que “Sarupya-Mukti” é assegurada para aquele que possui o verdadeiro conhecimento de Brahman por meio do Śuddha-Karma, ou ação feita pela via do serviço para o mundo inteiro, a qual o torna apto para a função de Adhikara-Purusha (ou um Membro da Hierarquia) ligado ao mundo. Afirma-se que “Sayujya-Mukti” é alcançada por meio da união com a Divina Presença, no sistema samsárico mundanal em que o Mukta está se desenvolvendo, como resultado do Śuddha-Bhakti (ou devoção ao Ishwara), acompanhada de constante oração para o bem-estar de todos, de acordo com o tempo e lugar. “Salokya-Muktiv” é o resultado do Śuddha-Gnana ou Sabedoria Pura, a qual capacita o Mukta para atuar em seu Gñana-Deha (corpo de conhecimento), sobre o qual há referência no prefácio do Yoga-Dípika, pg. 39 (original). 

O Gñana-Deha é um átomo do Plano Akáshico que é capaz de ilimitada expansão e contração dentro do Sistema Solar, e assim capacita o Mukta a percorrer todo o Sistema à vontade.

 O nome Salokya é aparentemente inspirado na analogia perceptível entre este grau de Mukta e o Ishwara do Sistema em que, com referência ao Último, o Universo é apenas um átomo pulsante com apenas uma parte de Sua gloriosa Vida, como é mostrado nesta passagem das Escrituras: 
“Todos os seres só constituem a quarta parte d’Ele; as três outras partes de Sua Natureza Imortal permanecem nos Céus.” 

Finalmente “Samipya-Mukti” é alcançada pelo Mukta por meio do poder de Śuddha-Yoga, transcendendo por completo o quíntuplo sistema samsárico mundanal, no qual ele atuou até então, entrando no Mahat, ou Plano Anupadaka (chamado também Go-Loka), chegando ao Plano Adi, o mais elevado de nosso Sistema Solar.

 Por tal passagem por estes Planos é alcançada a proximidade ao Ishwara, o Representante de Brahman no Sistema, e isto é o “Paramapada”, o Estado Supremo, de acordo com as Escrituras. 
Por último, os versículos 174, 175 e 176 do Karika tratam de um assunto sobre o qual há bem pouco entendimento, devido à escassez de informações existentes até mesmo em livros considerados atualmente de alta reputação por aqueles que se supõe terem elevado conhecimento das Escrituras. A tradução desses versículos é a que segue: 

“174 – Buscadores, após a Liberação, passam ao degrau imediatamente mais elevado com a Semente, e nunca sem ela. Os puros elementos óctuplos (Tatwas) brilham em tal Semente (Bija). 

“175 – O progresso do Aspirante, que já galgou um estado mais elevado que aquele em que ele estava anteriormente, se torna possível somente através da maior pureza da Semente.

“176 – Os Aspirantes devem, portanto, empenhar-se constantemente em purificar a Semente.” 

A substância desses versículos, em uma palavra, é que o aspirante que se esforça para passar de um estágio de seu crescimento espiritual ao estágio seguinte, mais elevado que aquele em que estava antes, deve levar consigo a Bija (ou a Semente) purificada. – O que é esta Bija?
 A resposta a esta pergunta envolve a consideração de certos fatos vitais relacionados com a evolução do Ego humano. 

Este Ego, ou Raio do Atma, se apropria, no mesmo começo de sua passagem pela Matéria, de um átomo de cada um dos cinco Planos, e continua a manter estes átomos imutáveis até o final desta passagem. 

Estes átomos são, por assim dizer, átomos permanentes do Ego, em contraposição às inúmeras partículas materiais colhidas durante cada vida e descartadas no seu término.

 Tais átomos servem como centro em torno do qual novos átomos e moléculas se vão agregando; assim o Ego constrói seus diferentes veículos para seu uso durante repetidas encarnações, isto é, em cada encarnação. 

Além disso, a essência das experiências de cada período de vida como um todo ou, em outras palavras, o resultado essencial dessas experiências, impresso nos átomos permanentes, possibilita a eles comunicar, aos diferentes corpos que virão a existir durante a encarnação seguinte, a capacidade vibratória de responder adequadamente aos anseios e tendências que serão manifestados, provavelmente, pela nossa personalidade durante aquela encarnação. 

Naturalmente o acúmulo de experiências nos átomos permanentes, na grande maioria dos casos, é comumente de caráter mesclado, em parte boas e em parte de outras índoles.

 Como é a preponderância das primeiras (das boas) que ajudará o Ego a ascender ao degrau superior na escala evolucionária, seu esforço deverá ser dirigido para o constante crescimento dessa preponderância, e assim diminuir a influência das tendências inferiores. 

É este processo de limpeza e purificação que é tratado nos três versículos que foram citados acima.

 Os aspectos principais sob a direção dos quais a purificação deve ser feita, de acordo com um comentarista deste Karika, são cinco: Akshara, Kârana, Atma, Paramatma e Parabrahman. O significado desta declaração algo obscura parece ser o seguinte: – o primeiro é que as Sílabas Místicas (ou Bijáksharas) são usadas como instrumentos especiais em conexão com a meditação e outras práticas semelhantes.

 A razão para a necessidade do uso de tais Sílabas é que as Sílabas apropriadas são os melhores meios de acesso ao Eu no coração de cada homem. 

O Som, que é a qualidade do Elemento Akasha, o plano mais alto e sutil no qual o Ego existe, levará o homem, em forma natural, ao contato direto e atual com o Ser manifestado nele.

 O aspecto seguinte, “Kârana”, é definido na Gita como Adishthana, Kartá, Kârana, Karma e Daivam.

 O primeiro constitui, evidentemente, os vários veículos que formam a base ou campo de toda ação; o segundo é a personalidade usando estes corpos durante uma determinada encarnação; o terceiro consiste, presumivelmente, dos órgãos conhecidos como Karmendriyas e Gñanendriyas; o quarto é a própria vida vivida; e o último é a forma particular de Gunamayi-Maya, ou, em outras palavras, o particular Shraddha (tendência) de um dos quatro Shraddhas, a saber: o Tamas-Shraddha, o Rajas-Shraddha, o Satwa-Shraddha e o Turiya-Shraddha, já explicados aqui em uma passagem anterior. Em relação ao Atma, Paramatma e Parabrahman, o conhecimento e compreensão d’Eles pelo Ego tem que ser ampliado em cada etapa pelo uso constante do processo eliminatório de “Neti-Neti” (Isto não, isto não), pois ninguém, por mais sábio que seja, pode dizer que conhece tudo sobre o Absoluto.

 As passagens do “Dharma-Dípika” (II, ii, 291-298), dadas no prefácio do Yoga-Dípika original (pg. 31), são dignas de ser lembradas nesta conexão, e elas afirmam, com efeito, que até os Videntes cujas descrições de Brahman são aceitas como os Vedas, descrevem-n’O somente como cada um deles O vê e nada mais. – Este é o resultado dos esforços purificadores do Ego com referência aos cinco aspectos, isto é, Akshara, Kârana, Atma, Paramatma e Parabrahman, que deve ser impresso nos “átomos permanentes” no sentido de torná-los Sementes Puras para a próxima colheita, de modo que a mesma possa ser frutífera. A exatidão literal da descrição contida no versículo 174, de que “os puros Tatwas óctuplos brilham na Semente”, é confirmada pelo testemunho dos Clarividentes que afirmam que os “átomos permanentes” de Almas Liberadas apresentam a mais brilhante aparência.

 Em nenhum lugar este assunto foi mais inteligentemente explicado que nas passagens do Karika citado acima, e a explicação ajuda a compreensão de certas afirmações feitas em relação à classe dos Espíritos Liberados,considerados na literatura Budista como Nirmana-kaya, Sambhoga-kaya e Dharma-kaya.

 Deve ser observado que o primeiro perde seu átomo físico permanente.

 Depois disso o Espírito vive em um corpo feito de matéria mais sutil e desempenha, em esferas invisíveis, seu trabalho no aperfeiçoamento e evolução dos seres, no globo.

 O Sambhoga-kaya perde todos os átomos permanentes com exceção do Akáshico, e daí por diante atua somente no plano Nirvânico. O Dharma-kaya perde também o átomo Akáshico, deixa o “Quíntuplo Universo” e encontra sua vocação mais alta nos dois Planos mais elevados, onde as Forças do Ishwara estão atuando mais direta e plenamente que nos planos inferiores. 
A natureza dessa vocação sublime é sintetizada no 99º versículo do Karika, assim: “Ele, tendo adquirido os poderes Brâhmicos, por sua verdadeira natureza, entra na forma de Luz Pura para o cumprimento dos deveres de Protetor do Universo.”

 Não é de admirar então que o Hierofante, no “Idílio do Lótus Branco”, observa: “A Alma do homem é imortal, e seu porvir é o de algo cujo desenvolvimento e esplendor não têm limites.” 

Seria desejável que cada um de nós elevasse sua visão e contemplasse a gloriosa imagem a nós revelada, e rogasse diariamente que a Divina Mãe nos admita em Sua Presença, que nos abençoe e nos torne capazes de outorgar bênçãos aos sistemas mundiais. 

Da explicação acima, de alguns dos pontos notáveis tratados no Karika, torna-se claro que estes merecem um profundo estudo, e ficará demonstrado que o estudo deste Livro (a Gita) é do máximo proveito para todos aqueles que o tratarem não como algo para ser meramente provado ou engolido, mas sim para ser mastigado e digerido. 

Antes de concluir é necessária uma palavra em relação às fontes usadas para preparar a presente edição para ser impressa.

 O manuscrito que o Editor tem em suas mãos é uma cópia, feita há muitos anos atrás, do manuscrito de Swami Yogananda, o qual tem evidenciado muito interesse na publicação desta e de outras Obras conhecidas até agora somente pelos Membros do Śuddha Dharma Mandalam, ao qual ele pertence. 

A referida cópia do Editor foi cuidadosamente comparada com duas outras emprestadas pelos Swamis Shankarananda e Bhavananda, ambos também altos Membros da referida Ordem. 

Além disto, todos os manuscritos foram conferidos com o conteúdo de um manual feito de folhas de palmeira, contendo as primeiras palavras de todos os versículos da Gita, na ordem em que eles estão na presente edição.

 O manuscrito (Karika) de Gobhila, usado pelo Editor, foi gentilmente emprestado por um dos Swamis (referidos acima), os quais ocupam uma posição muito alta na Ordem. Torna-se assim claro que foi tomado bastante cuidado em fazer a presente edição exata e confiável. 

Esperamos que ela tenha uma ampla circulação. 

M. R. Ry. S. Rm. Ct. Pethachi Chêttiâr Avl., o Zemindar de Andippaty, como seria de esperar, deu o mais pródigo apoio a este empreendimento e manifestou o desejo de ter à sua disposição nada menos que 2.000 exemplares desta Gita para distribuição gratuita entre estudantes sinceros. 

M. R. Ry. Rao Sahib Calavala Kannan Chêttiâr Avl., de Messrs. King e Co., de Madras, tem sido, além de sua conhecida generosidade e amor pela sabedoria ariana, suficientemente bom, pedindo 1.500 exemplares para serem colocados à sua disposição para um propósito semelhante. 

M. R. Ry. P. L. S. Shanmukham Chêttiâr Avl., de Murayoor, Distrito de Râmnad, com a intenção de divulgar o conhecimento do conteúdo da presente edição, adquiriu 500 exemplares. 

Não temos palavras que possam expressar a gratidão que sentimos para com os referidos cavalheiros por seu generoso patrocínio que assim ampliou a realização do objetivo que os Maiores do Mandalam têm em vista, dando como resultado a publicação desta Gita e de outros Livros Sagrados similares, nas formas que até agora não foram acessíveis ao público em geral. 

O encorajamento que recebemos no início deste novo empreendimento mostra que logo realizaremos nosso propósito de publicar nova edição. 

É desnecessário dizer que é nossa intenção colocar a Gita, de acordo com sua disposição verdadeira e original, mesmo ao alcance da pessoa mais pobre. 

Isto se pode ver pelo preço nominal de quatro “annas” por exemplar, um preço que, mesmo com referência ao simples custo da edição, deixa um déficit que estamos em posição de cobrir com a doação de 500 rúpias feita por M. R. Ry. Rao Sahib Kannan Chêttiâr Avl. no último ano, e que aqui temos a oportunidade de agradecer. 

Devemos acrescentar que o desejo d’Aqueles por cujo pedido foi publicada a presente edição será realizado plenamente, de acordo com Sua vontade, somente quando a Gita, como está disposta aqui, for traduzida para o inglês (de acordo com a aprovação de Hamsa-Yogue) e colocado ao alcance de todos, por meio do moderno idioma; estamos dando os passos necessários para cumprir Seu desejo. 

A versão inglesa, que é a aspiração d’Aqueles que estão vinculados a esta obra meritória, isto é, a de colocá-la ao alcance dos leitores o mais cedo possível, conterá as traduções do esplêndido prefácio de Hamsa-Yogue e do Karika de Gobhila19, ambos merecedores de um estudo cuidadoso, como Ensinamentos do próprio Senhor. 

Naturalmente é difícil, porém necessário, dizer que o Editor compreende plenamente que a presente edição do texto sânscrito (desta Gita) está sujeita a encontrar muita oposição por parte daqueles que consideram qualquer mudança como necessariamente má. Contudo, tal oposição deve ser combatida, e todo esforço deve ser feito no sentido de restabelecer a Verdade, e o caminho correto, em casos como este, é proceder com a firme convicção de que esta Verdade prevalecerá, a menos que a ocasião escolhida para este restabelecimento não tenha sido oportuna. 

Os Guardiães da Literatura que se pretende publicar agora, julgam que é chegada a hora de principiar o trabalho cuja incumbência foi dada por Eles ao Editor.

 A satisfação que deriva de executar o desejo d’Eles é considerada pelo Editor como ampla recompensa pelo seu labor de amor, apesar da impopularidade à qual este trabalho provavelmente o exporá em certos meios. 

Isso porém não o impedirá de desempenhar a tarefa auto-imposta com o melhor de sua capacidade e dedicação, pois ele se recorda da censura que foi feita, embora delicadamente, há três séculos atrás, pelo Santo Autor do “Upadesa-Ratna-Mala” a seus hostis críticos, nas linhas que seguem: 

“Os sábios se regozijarão, e aqueles que estão ávidos de aprender dirão com alegria: ‘Aqui nós encontraremos aquilo que buscamos’, e estudarão e ponderarão sobre isto. – Ó meu coração!, que importa que alguns falem com tanta malícia? Não será, em realidade, da própria natureza deles falar assim?” 

A fim de que a necessidade das observações feitas não seja questionada, seria bom dizer que a justificação para elas se relaciona com a tentativa de desacreditar o trabalho do Editor, feita persistentemente por alguns, os quais convém conhecer, para se proceder melhor – uma tentativa que, entretanto, em vez de prejudicar, apenas trouxe o patrocínio e apoio daqueles amigos iluminados que foram capazes de perceber o valor que tem esta Obra no interesse da Ciência Sagrada. 

Para informar esses amigos deve ser dito que o Editor deseja publicar, assim que as circunstâncias o permitirem, quatro outras Gitas modeladas de acordo com a Gáyatri, consistindo cada uma de vinte e seis capítulos, todas de profundo interesse: 

1) “Sruti-Gita”, contida no Taittiriya-Aranyaka; 
2) “Brahma-Gita”, contida nos quarenta e nove Upanishads enumerados no prefácio do Editor; 
3) “Arsha-Gita”, contida no Ramayana, sobre a qual foi feita referência anteriormente; 
4) “Śuddha-Gita”, contida no “Devi-Bhagavata”, a qual não é o livro conhecido correntemente com esse nome, mas sim um livro que encerra o relato de um diálogo entre Sri Yoga-Devi e o Senhor Naráyana. 

Este humilde esforço, feito no sentido de abrir os olhos e chamar a atenção dos estudantes para a forma em que nossa Sublime Escritura é apresentada aqui, falharia em seu propósito se o cuidado com que esta foi feita não fosse mostrado direta e enfaticamente. 

Este cuidado consiste no caráter totalmente não sectário da Escritura, sob qualquer ponto de vista.

 Sua Doutrina, como o próprio Hamsa-Yogue observa, não é nenhum dos numerosos cultos que exerceram, de tempos em tempos, influência sobre as mentalidades das diversas comunidades. Sua finalidade não é, segundo Hamsa-Yogue, apoiar Vaishnavam, Shaktam, Shambhavam, Buddham, Kanadam, Sankhyam, Yogikam, Tantram, Vedantam, ou qualquer outro culto em especial. 

Pelo contrário, esta é a mais perfeita exposição do mais elevado sistema de Filosofia, Ética, Religião e Moral, isto é: – Śuddha Dharma. 

Seu tema é Parabrahman (o Absoluto), nos aspectos de Transcendência e Imanência. Na exposição deste tema, com o uso do Símbolo Supremo (o Pranava), o monossílabo “OM” representa o aspecto Samasthi (não dividido) ou a “Visão Coletiva”, e as três letras que compõem esta Sílaba (o Pranava AUM) representam as três Fontes máximas de cada coisa em todo o Cosmo. Conforme foi observado em um parágrafo anterior, o “A”, a primeira destas letras, representa o Supremo Ser imanente em tudo, e do Qual todos os outros seres são apenas reflexos; a segunda letra, o “U”, representa a Mula-Prakriti ou Matéria-Raiz, da qual se forma a matéria dos veículos de todas as entidades manifestadas e de todas as coisas; a terceira e última letra, o “M”, representa o “nexo” entre o Ser ou Sujeito por uma parte, e o veículo material ou objeto, por outra. Este nexo possui a característica singular de ser uma relação por negação (Nishedha-Sambandha), da qual a melhor expressão está contida no aforismo “AHAM-ETAT-NA” = “Eu, isto não” (isto é, “Eu não sou isto”, referindo-se à Matéria). 

Na investigação prática e compreensão do Sujeito em si – Brahman – os instrumentos usados pelo buscador são as três faculdades possuídas por todos, a saber: o poder de cognição (Gñana); o poder de Vontade ou Desejo (Ichchha); e o poder de Atividade (Kriya), das quais resulta finalmente a dádiva da expressão concreta final, devido ao estímulo do segundo poder (Ichchha), com a assistência do primeiro (Gñana). 

Os méritos deste Śuddha Dharma foram sintetizados pelo próprio Senhor nas importantes e abrangentes palavras que seguem: Raja-Vidya, ou Ciência Real; Raja-Guhyam, ou Mistérios Reais; Pavitram-Idam-Uttaman, ou Supremo Purificador; Pratyakshavagamam, ou o Instrutor que ensina os meios de realização direta da Felicidade; Dharmyam – consoante à Lei da Retidão; Susukam-Kartum – agradável e fácil de seguir; e Avyayam – produtivo de resultados não perecíveis. Pode-se ver assim que este Śuddha Dharma nao é, de modo algum, um sistema artificial, porquanto tem seu fundamento na própria natureza do homem e do Universo. 

Portanto não pode senão interessar a todos os temperamentos: ao do Gñani – o Filósofo; ao do Bhakta – o Místico; ao do Karmatha – o Filantropo (que deseja servir ativamente a seus semelhantes, não excluindo seus irmãos mudos do reino animal); e por último ao temperamento do Raja-Yogue – o verdadeiro Homem de Ciência, o qual, além de investigar a natureza externa, tanto em seu lado visível como no oculto, penetra as profundezas de sua própria natureza espiritual interna, vê face a face a Divindade no coração (Shamyak – Darshanam), e se torna Imortal, banhando-se na Luz desta Eterna Maha-Chaitanyam, a qual (a Luz), emanando d’Ela, anima toda existência. Seguramente este é o sistema de pensamento e de vida que pode conduzir à prática do Amor Universal e à realização do sonho de todas as Grandes Almas, isto é, a fraternidade universal. 

Como estas últimas palavras não perderam sua atualidade, vêem-me à mente alguns pensamentos de um jovem e querido amigo, Mr. V. Sundaram, fornecendo uma prova agradável do oportuno esforço de difundir e popularizar a Sabedoria estimulando o estudo desse sistema universal de Filosofia e Religião, pois estes pensamentos, que mostram a indagação à qual esta Filosofia responderá, e a sede que esta Religião saciará, estão impressionando as mentes que estão em germinação, capazes de verdadeira floração espiritual.

 Assim, este prefácio não poderia ser melhor concluído do que com os belos pensamentos referidos, os quais respiram doce devoção ao Deus que eles (os versos) invocam, e terminando, como eles o fazem, com a nobre oração que deve estar nos lábios de todos os humildes buscadores d’Aquele que é o Manancial do Infinito Amor e Sabedoria.


Nota: 
Importantíssimo lembrar que, Sri Vájera escreveu seus artigos a quase 100 anos atrás.
Ele morava em Santiafo/ Chile, um país essencialmente Católico.
Sendo assim, para não sofrer rejeições, optou por sempre  mencionar inúmeras citações da Bíblia Cristã como exemplos de suas idéias.
Segundo seu entendimento, isso facilitaria a compreensão de seus leitores, já que a cultura oriental é bastante diferente da ususal.
Portanto, temos que elaborar nossa mente para um entendimento mais próximo do original, tendo sempre como ponto de partida, a aceitação de que Suddha Dharma NÃO é religião....e que esta Ciência está além do discernimento humano, porém como Ela é adaptável em Tempo, Lugar e Circunstância, Ela é moldável e expressiva em qualquer filosofia ou religião deste reino hominal.