quarta-feira, 7 de novembro de 2012

DHYANA YOGA



Sri T. M. Janárdana
Qualquer que seja a modalidade de Yoga a que nos dediquemos, quer seja do tipo Prakrita, Atmiya ou Suddha, a meditação – Dhyana – é o único meio legítimo ou o mais eficaz para possibilitar ao homem a realização das excelentes auspiciosidades e beatitudes – Vibhutis – próprias destes três Yogas principais.
O Prakrita Yoga tem por objetivo a obtenção de propósitos materialistas.
O Atmiya Yoga é dirigido, exclusivamente, à realização do Princípio Espiritual denominado Átman, que o ser humano leva no mais íntimo de seu ser.
No Suddha Yoga, nossas aspirações se orientam para esses elevadíssimos planos de interminável aproximação à Transcendência Eterna – o Suddha Brahm
Contudo, podem-se contemplar suas manifestações Átmica e Prakrítica (material), fato que está de acordo com a profunda afirmação contida nos seguintes aforismos:
   VASUDEVAM SARVAM:  tudo isto é Vasudeva, e
SARVAM TAD KALVIDAM BRAHM: verdadeiramente, tudo é Brahm.

No Suddha Yoga, nossas aspirações se orientam para esses elevadíssimos planos de interminável aproximação à Transcendência Eterna – Suddha Brahm.

É óbvio, por certo, que se deve alcançar uma compreensão plena do profundo significado da meditação, e não permanecer ufanamente na cômoda crença de que, pelo fato de se haver traduzido Dhyana por meditação, já sabemos tudo.

 Não, não pode ser, porque a meditação dificilmente poderá ser compreendida e, menos ainda, ser praticada, se não se conhecer seu processo, em que plano funciona, quais são os benefícios que traz consigo e quais são os demais fatores que nos conduzem ao seu conhecimento exato, verdadeiro e completo, a fim de adquirir a eficiência necessária e habilidade em seu exercício.

Dhyana, ou meditação, é o nome técnico com que se designa aquele processo mental que se exercita com o propósito de tomar contato com a DIVINDADE em seu aspecto de transcendência máxima – SUDDHA BRAHM -, conhecido com os nomes de Suddhátman, ou Paramátman.

Estritamente falando, este nome técnico não é aplicável ao aspecto espiritual desta Divindade Transcendente, comumente chamada de Átman, Kevalátman, Nirgunátman, Sákshi, a testemunha, nem tampouco aos seus aspectos materiais, ou de forma, chamados Sagunátman, ou Samsarátman, que iniciam os inumeráveis processos evolutivos mundiais. 

Somente por uma cortesia, tornada tradição, se lhes aplica a palavra meditação.

 Na realidade, estes dois aspectos Espiritual e Material ou Nirguna e Saguna, têm relação direta com o funcionamento cósmico e se lhes considera Asuddha, enquanto que o transcendente Brahm, que é Suddham, ou Suddhátman, lhes proporciona, eternamente, a vida necessária e é, portanto, a meta mais elevada das aspirações e destinos humanos.

As três variedades de Yoga, acima mencionadas, têm relação, respectivamente, com a Divindade Transcendente, em seus três aspectos fundamentais. 

Consequentemente, não é empírica a formulação dos três Yogas principais, pois isso está de acordo com a modalidade da tríplice percepção (Dhrishti), inerente a cada alma individual (Jiva) que começa a funcionar na roda evolutiva dos processos mundiais (Samsara).

 Empenhado em alcançar os resultados que essa percepção revela, o Jiva adora a Divindade em seus três aspectos principais, recorrendo para isso a esses três meios mais importantes.
O que aqui se designa como percepção (Dhrishti), está relacionado com o Conhecimento (Gnana). 

Todo conhecimento é só para a ação e toda ação vai sempre ligada aos resultados de uma ou outra classe. 

Quando o Eu egoísta (Swartha) exerce sua influência predominante sobre o Jiva apegado aos resultados, este, sensivelmente, se torna asúrico e isso conduz à escravidão e à morte; quando se elimina esse egoísmo, geram–se qualidades angélicas (dévicas) que conduzem à liberação e à imortalidade.

Tríplice Percepção e Adoração

As três modalidades de percepção (Dhrishti), a que nos referimos, se denominam:
1)              Guna-Para
2)              Atma-Para
3)              Brahma-Para

O homem, no transcurso das quatro etapas principais de seu desenvolvimento – da infância à adolescência, daí ao estado adulto e, finalmente, à velhice – desenvolve também estas percepções; delas, a primeira é a Guna-Para.

1) Guna-Para

“Guna-Para” significa “ligado às qualidades” (gunas), ou seja, orientado para o objetivo
Todas as coisas que revestem formas são qualitativas por sua própria natureza.

 A alma individual se inicia, normalmente, desde a sua infância, com percepção objetiva (“Guna-para-dhristi”).

Qualidade, ou guna, está se referindo ao bem conhecido trio de Satwas (luz, ou inteligência), Rajas (atividade externa) e Tamas (obscuridade, inércia, ignorância ou perversão).
 A totalidade da Criação sensível, sem exceção alguma, quer se trate dos Devas ou de homens, está sujeita à influência destas três qualidades.
na tadasi pritivyam va divi deveshu va punaha, satwam prakritijirmuktan yadebhihi ayattri-bhirgunihi
“Nada existe na terra nem entre os Devas no Céu, que esteja livre da influência destas três qualidades engendradas pela matéria”.
Por meio de milhões de combinações de diversos graus, estas três qualidades se projetam através dos múltiplos objetos do mundo, criando intermináveis fascinações (moha), e a alma individual, cuja mirada que, em primeiro, está orientada objetivamente, vai em busca destas fascinações para realizar qualitativamente as matérias externas.

 O conhecimento e o método para tal realização constituem o conteúdo dos VEDAS, que tratam principalmente destes fatores qualitativos, de sua adaptação e de sua realização (trigunya vishaya veda).

Para a realização desses objetos qualitativos, recorre-se à adoração da Divindade dotada de formas, ou seja, ao seu aspecto Saguna
Nos tempos primitivos, foi fundamental a adoração de formas (“Saguna”), tais como Mitra, Varuna, Vayu, Agni etc.

 Depois, a adoração passou para as formas de Devas, tais como Indra; posteriormente, com o crescimento da percepção, tomou as formas de imagens de encarnações divinas (Avatara-Purushas). 
Nesta modalidade de adoração, concebe-se a Divindade plena de excelentes qualidades que alguém seja capaz de visualizar.
 As melhores formas para esta adoração Saguna são as seguintes: Rama junto com seu irmão Lakshmana, Sri Krishna e Shiva com sua consorte Parvati ou Uma.

1)         Atma-Para
A percepção Atma-Para é de natureza espiritual,
enquanto a Guna-Para é material.
 Aqueles que possuem esta percepção espiritual procuram tomar contato com o Princípio Espiritual chamado Átmanque reside no profundo do coração de todo ser humano. O Átman está livre das perturbações trigúnicas e, portanto, é Nirguna: possui a dimensões do nosso dedo polegar (angushtamatra purusha). O resultado desse contato com o Átman é o fruto da renúncia (Samnyasa); esta, por certo, não consiste, simplesmente, em vestir uma túnica alaranjada, mas em executar toda ação necessária, alheios a todo interesse egoísta (Swarta-Dosha). O resultado que se consegue é a liberação (Moksha) da iniludível cadeia de reencarnações e mortes.
Como condição prévia a esse contato, é necessário investigar o que seja o Átman (Atma-vichara). O sentido da doutrina Vedanta facilita  essa investigação e a compreensão correspondente.

Vedanta significa “final dos Vedas”; por isso é considerado um tratado sobre Moksha Dharma, sendo este o quarto purusharta ou objetivo do ser humano. Também o estudo dos Vedas conduz à realização dos três purushartas,[1] que são: Dharma: proteção; Kama: desfrutar e Artha: conhecimento das ciências inferiores, ou Aparavidya.

Os UPANISHADS, cujo tema é a Para-Vidya, ou ciência superior, constitui o Moksha Dharma, e é disto que se ocupa o estudo Vedanta. 
Mas o mero estudo Vedanta não pode, por si só, conduzir ao contato desejado com o Nirguna ou Kevalátman, pois tal estudo gera, quando muito, um conceito intelectual desse princípio espiritual, ou átmico.
 As conhecidas BRAHMA-VIDYAS, que são trinta e duas, contêm os diversos métodos ou disciplinas mediante as quais se toma contato com este princípio átmico em seus múltiplos aspectos.
 Esta prática, atingindo êxito, é denominada Yoga Garbhatwa, ou seja, o Yoga em seu interior; mas não é Yoga como tal.
1) Brahma-Para
Aqueles que estão dotados de Percepção Brahma-Para são os verdadeiros Yogues, pois seu objetivo está dirigido ao Suddhátman, ou Paramátman. Este é, ao mesmo tempo, Saguna e Nirguna (nirgunam gunabhoktrucha), também permanecendo eternamente transcendente (Turiya) como  Satyam Gnanam Anantam Brahm (Verdade, Sabedoria e Glória é Brahm).
Esses Yogues estão dotados das oito qualidades átmicas, que são: anasuya: sem inveja; daya: compaixão; shanti: tranquilidade; aspruha: sem cobiça; chowcha: pureza; akarpanya: impessoalidade; anayasa: infatigabilidade; mangalam: orar pelo bem-estar de todos. Essas pessoas recorrem ao estudo do Yoga Brahma Vidya, nome esse tão acertadamente traduzido por Ciência Sintética do Absoluto. 
Este Yoga Brahma Vidya é a trigésima terceira vidya, o Mahavidya (as trinta e duas vidyas anteriores se chamam Brahma-Vidyas). 
O resultado dos empenhos e dedicação destes Yogues é que conseguem realizar, no mais recôndito de seu próprio coração, o Princípio Sintético que a tudo compenetra: Antaryami Paramatma, ou também Satchitanandaruga.

Este Yoga Brahma Vidya é considerado como Parama-Vidya, ou seja,  aspecto supremo da essência superior; enquanto que os Upanishads denominam a Para-Vidya, a que nos havíamos referido, de Aparama-Vidya, ou ciência inferior, quando é comparada com aquela.

A disciplina, neste caso, é a de completa entrega de si mesmo (Tyaga) e passa a se associar com a renúncia (Samnyasa) para atingir essa realização.
 O SRI BHAGAVAD GITA, que é o texto do Yoga Brahma Vidya, gera a suficiente percepção sintética (sama-gnana) que conduz ao Yoga (Samatwan yoga uchyate), e isto é tomar contato Suddhátmico, ou Paramátmico, no quarto plano denominado Turiya.

OS TRÊS TIPOS DE DHYANA

A fim de atingir a realização dos respectivos objetivos destas três modalidades de percepção, recorre-se à Dhyana, denominada categoricamente Saguna Dhyana, Nirguna Dhyana e Suddha Dhyana de acordo com a situação. 
Isto equivale a dizer que Dhyana constitui um processo em sequência para aquisição do conhecimento.

 Em outras palavras, se não se possuem conhecimentos, ou seja, uma compreensão intelectual dos objetivos anelados, Dhyana dificilmente poderá ser frutífera.

Aqueles que se propõem a praticar o Dhyana devem estar obviamente cientes da importância de adquirir o conhecimento como primeiro passo, visto que o Dhyana só pode ser executado, eficientemente, se esse exercício estiver de acordo com a percepção correspondente, fato que a própria definição de Dhyana deixa bem claro.
 Vejamos, agora, o que é que nos destaca tal definição.

Definição de Dhyana
Dhyana é da forma de chinta (“Dhyanam chintarupámsyat”).
Chinta significa reflexão.
 A diferença do mero ato de pensar, há em Chinta frequência, repetição, uma constante concentração em uma só ideia.
 Portanto, Dhyana não é meramente “chinta”, mas “chinta-rupa”, ou seja, forma reflexionada.
 Isto significa que é preciso se formar na mente uma figura sobre a qual se pode enfocar a reflexão.
 A definição “chinta-rupa” apresentada acima deveria ajudar-nos a formar uma ideia mais clara e exata de seu verdadeiro alcance:

Chinta-rupa é aquele objeto outorgador de glória agradável, de acordo com o respectivo motivo da percepção”.
tat tad vishaya niradisayananda vastu chinta-rupa”.

É imperativo ter presente na mente uma figura que representa o objeto outorgador de glória (Ananda-vastu), e, além do mais, esta figura tem de representar o tema, ou motivo respectivo (tat-tad vishaya), e isto se refere às três modalidades de percepção já mencionadas.

Estas três percepções criam, respectivamente, na mente, uma figura dos objetos outorgadores de glória; a percepção Guna-Para cria a forma Saguna; a percepção Atma-Para, a forma Nirguna; e a percepção Brahma-Para, a forma Suddha. Chinta-rupa corresponde a quaisquer destes três objetos de glória.

É necessário ficar bem estabelecido que, no Dhyana, é imperativo visualizar a forma, pois se ela não é visualizada, o ato será simplesmente chinta, isto é, mera reflexão sobre uma ideia, e isto não é Dhyana.
 Também é necessário estar presente o efeito que produz glória; se este efeito é doloroso, desagradável, não houve Dhyana, posto que a mente estará ocupada pensando como se safar daquilo para se livrar da dor.
Uma ideia poderá proporcionar glória agradável; entretanto, a forma que a ideia é capaz de criar é o único que poderá causar a continuidade do efeito da glória para os fins da reflexão.
 Portanto, chinta-rupa é forma e não uma simples ideia.
Temos, então, que Dhyana, definida como chinta-rupa, pode ser explicada assim: denomina-se Dhyana a essa modalidade de esforço que facilita a retenção, na memória, daqueles objetos  de glória que haverão de ser percebidos (tad-tad vastu vishaka smrityanukula vyapara rupamcha hi dhyanam vignayate).
Em outras palavras, todos aqueles esforços de pensamento, de palavra e de fatos que auxiliam a mente a reter, em si mesma, a memória de algum determinado objeto de glória pertencem à categoria de Dhyana.
 O essencial é a retenção perpétua na memória, pois, do contrário, é muito provável que o objeto se apague da mente, deixando somente uma ideia e, em consequência, se estingue o entusiasmo.
 É plenamente evidente, então, que se deve intensificar a atividade, a fim de poder reter a memória da forma por meio do Dhyana.
 Isto é óbvio por demais.
 O resultado de tudo isto será a realização das virtudes correspondentes aos objetos de adoração que se deseja.
Na realização das virtudes, ou beatitudes (vibhutis), por meio do Dhyana, se pode distinguir a diferença de seus méritos. 
Enquanto o Nirguna Dhyana e o Suddha Dhyana nos conduzem às suas respectivas beatitudes, o Saguna Dhyana nos oferece duas distintas categorias de resultados. 
Assim, por exemplo, quando as formas nas quais meditamos são as das Divindades dotadas das qualidades auspiciosas que já mencionamos, se atingem bons resultados na vida material, paz e abundância, e se afirma que o devoto alcançará o Céu Mental (swarga) depois que tenha deixado seu corpo físico.
 Entretanto, quando esta Meditação está dirigida unicamente aos objetos prazerosos de ordem material, mesmo que os consiga, o homem terminará finalmente na dor que o conduzirá ao inferno aqui e mais além.
 O BHAGAVAD GITA destaca isto com muita ênfase:
Aquele que se dedica às coisas dos sentidos, desperta em si mesmo um apego por elas, do apego brotam as paixões, e das paixões, a ira; pela ira, perde-se a claridade mental e, após isso, a memória é obscurecida; por isso, a inteligência é debilitada e, nesse estado de decadência, o homem perde sua razão de ser e não alcança Samya-Yoga” (V. 5-6).
 “dhyayato viyhayam pumsaha sangastes-hupajayate, sangat sanjayate kamaha, kamat krodhobi jayate krodhadbhavanti sammoha, sa
ohatsmritivibrahmaha,smritibrahmsat buddhinasaha buddhinasat pranasyatiO exposto acima tem de deixar bem claro que, se se medita em objetos de mero prazer físico, empenhando-se em alcançá-los, a memória gradualmente se debilita. Para evitar semelhante calamidade, há de se recorrer ao Dhyana de formas auspiciosas e divinas, já que isto contribui para fortalecer a memória (smriti), e é precisamente este o propósito do Dhyana.

 A definição desta palavra assim o demonstra. A segunda guerra do século XX é um exemplo claro do uso pervertido do princípio do Dhyana com fins meramente materialistas, que se podem empregar para diversos fins, bons ou maus, de acordo com a inclinação do indivíduo e, por sua vez, esta inclinação dependerá da classe de conhecimento a que a educação o tenha preparado. 
Isto nos está demonstrado de maneira óbvia quão grande importância tem a aquisição de conhecimentos sãos, desde a nossa mais tenra idade, tanto na ordem espiritual quanto na material.

Natureza do plano subjetivo
em que o Dhyana atua

Do que foi explicado na primeira parte, não é necessário dizer que Dhyana é um ato mental. Pode-se afirmar que, por meio da meditação, se reforça a memória (smriti).
 Ainda que ambos os processos pertencem à categoria de funções mentais; contudo, são aspectos diferentes porque correspondem a dois planos distintos da Mente.
Aquilo que o conceito filosófico do Ocidente define como “Mente” é esse algo que procura nos dar uma ideia da soma total dos fenômenos que ocorrem dentro das regiões subjetivas do homem, compreendidas todas essas séries de funções diversas, tais como, pensar, raciocinar, sentir, emocionar, de volição e de outras faculdades, mescla confusa de precisão ou do contrário, cujo funcionamento tem sua esfera objetiva dominante em certas manifestações externas que se denominam vida.
Segundo o pensamento filosófico Yogue, as funções subjetivas da mente se agrupam sob dois títulos distintos: Intelectuais e Emocionais.
As funções intelectuais abarcam tudo o que se relaciona com o conhecimento (gnana), e a isto se denomina “Plano de Mahat”. 
Por outro lado, as funções emocionais correspondem ao plano de Manas (mente) no qual as manifestações do desejo (iccha) adquirem toda a sua força.
O plano Mahat se caracteriza pelo que se denomina consciência e consciente (Chetana), enquanto que o Manas é caracterizado pelas qualidades duais, tais como preferências e desagrados (iccha, dwesha), prazer e dor (sukha, dukha) etc.
Mahat é considerada mais sutil que Manas; é capaz de influenciá-lo e é chamada também Adi, ou o mais elevado, o plano primeiro. Por outro lado, a essência de Manas é a inclinação à oração (prartana).
Mahat literalmente significa grande e se caracteriza pela profundidade de discernimento e a amplitude de visão.
Manas restringe o campo destas faculdades para a nossa própria e pequeníssima personalidade e ao meio ambiente. 
No Manas, está radicado o foco principal do egoísmo humano – o Ahamkara.
Estes dois planos Mahat e Manas, comumente designados como grupos das faculdades (Tatwa-kutas) e que estão dotados de certas características definidas que lhes são próprias, são eternamente diferentes um do outro, mesmo quando reciprocamente se estancam, e só podem ser reconhecidos separadamente por certas forças qualitativas (sháktis) que liberam quando se atua sobre eles.
Mahat e Manas são, de por si, inanimados, posto que estão formados de matéria (prakriti).
 Sem dúvida alguma, que é a alma individual (Jiva) que põe em atividade Mahat e Manas, em virtude de que de cuja ativação se liberam suas energias. Quando isto ocorre, o Jiva se apodera dessas energias e as exercita de acordo com sua própria natureza, atingindo, assim, os resultados que deseja conseguir.
Do plano Mahat, posto assim em atividade, são projetadas seis forças ou energias (sháktis), que são:
1.     Buddhi, a inteligência discriminativa;
2.    Pragna, o estado de alerta ou de vigilância;
3.    Upaladbhi, a compreensão;
4.    Kyati, o sentido laudatório ou de adoração;
5.    Dhriti, o sentido de unidade; e
6.    Smriti, a memória ou evocação.

Conclui-se, a partir disso, que smriti (memória), a qual Dhyana procura reavivar, pertence a Mahat, ou seja, à faculdade do conhecimento.
 É a memória que vigoriza a Buddhi, ou a inteligência discriminativa (discernimento), mediante a qual o homem funciona durante a sua existência.
 Se não se possui memória, a Buddhi não pode funcionar devidamente e a existência termina em desastre, tal como o Senhor declarou numa frase que já citamos.
Estas forças (sháktis) possuem duas linhas de ação, uma delas dirigida objetivamente (pravritti) e a outra ao inverso, subjetivamente (nivritti). Das seis forças já indicadas, Buddhi, Pragna e Upaladbhi se dirigem para o exterior, objetivamente, enquanto que as outras três Kyati, Dhriti e Smriti, apontam para o interior, para dentro, subjetivamente.
Buddhi, a primeira destas forças, é a que possibilita o funcionamento inteligente, no meio das multiplicidades, mediante a seleção, enquanto Dhriti procura captar a unidade essencial que se oculta nas multiplicidades da existência. Por isso, é denominada Yoga-Shákti.
Por sua vez, Buddhi, funcionando na multiplicidade, está dotada de cinco faculdades auxiliares primárias que facilitam seu funcionamento. São as seguintes:

1. Ishtanishta vipatti: as  preferências e as aversões;
2. Vyavasaya: o funcionamento;
3. Samadhita: o exame por abstração;
4. Samsaya: a dúvida; e
5. Pratipatti: a aplicação.

Com estas faculdades auxiliares, a Buddhi da alma individual (Jiva) se encaminha pela senda da objetividade (Pravriti-marga), dirigindo, nesse sentido, a sua atenção.

Já havíamos mencionado que a característica dominante de Manas é iccha-dwesha, ou seja, preferências e aversões ou ódio.
 Uma das particularidades da Buddhi também é denominada “a calamidade das preferências e aversões” (ishtanishta vipatti). 
O atributo de calamidade (vipatti) atribuído ao fenômeno dual das preferências se justifica, já que os opostos desastrosos e as multiplicidades em conflito somente são geradas nestas dualidades.
 A alma individual (Jiva) submetida à influência funesta das dualidades, é incapaz de se liberar dela e se debate na existência cíclica (samsara) durante uma longa série de reencarnações e mortes. O Senhor disse:

Ó Bhárata, associado ao duplo fenômeno das preferências e aversões, todos os seres iniciam seu percurso na Criação. Ó Parantapa, obscurecida a sua visão de que a essência átmica é uma só”.
 “iccha dwesha samuttena dwandwa mohena bharata, sarvabhutani sammcham sargeyanti parantapa”.

O afirmado acima permitirá reconhecer facilmente que Manas é somente a Buddhi modificada e dotada da faculdade especial desta última, isto é, as preferências e aversões, com o propósito evidente de multiplicar as diversidades. Contudo, não é verdadeira esta faculdade dual, já que no Manas ela é somente uma modificação da Buddhi; a isto se deve que, quando os homens caem sob sua influência funesta, não tendo compreendido o que esta é realmente, e sendo incapazes de abstrair-se da ideia das dualidades opostas, caem subjugados por dwandwa moha, que os conduz à ignorância e à morte.

Com relação ao adjetivo “moha” ao qual se atribuiu “dwandwa”, ou dualidade, poder-se-ia traduzi-lo por “fascinante” ou “enganoso”; entretanto, está aí para indicar, antes de mais nada, a influência da energia transformadora, tão conhecida pelo Nome de Maya, ou Yoga Maya, ou Maya-Maya, que converte a unidade em multiplicidade.[2]

Firmemente assentada no veículo Manas do homem, esta Maya pode operar para o seu bem ou para a sua ruína, de acordo com a compreensão que ele tenha da influência todo-poderosa e inegável que ela exerce. 
Maya não deixa ninguém livre, quer se tratem de homens, de Anjos ou do mesmíssimo Ishwara.

No Ishwara, ela existe como Devi-Maya, Devi-Shákti, para criar os inumeráveis processos evolutivos mundiais. Nos Devas e Hierarcas, que descem como Avataras, ela recebe o nome de Esha-Maya ou Esha Shákti e, dotados desta maneira, eles promulgam as eras auspiciosas para o bem-estar do mundo.

Associada ao homem, existe a denominada Gunamayi-Maya ou Gunamayi-Shákti; neste caso, a energia transformadora – Maya – se modifica outra vez de forma tríplice, constituindo as qualidades – gunas – que já mencionamos com os nomes de Satwa, Rajas e Tamas.

No BHAGAVAD GITA, o Senhor define como insuperável a influência desta tríplice Maya (Deivi esha gunamayi mama maya dhuratyaya).
O veículo Manas do homem, quando se encontra sob a influência da Gunamayi-Shákti (Satwa, Rajas e Tamas), promove as inumeráveis multiplicidades de formas.

Por sua própria natureza, está orientado objetivamente, já que é uma forma modificada da igualmente objetivista Buddhi (pravritta buddhi) e, com suas características bem definidas de dualidades de preferências e aversões, é o assento principal de “moha” (ilusão).

Deste Manas dual ativado pelo Jiva, se projetam primeiramente seis modificações similares à de Mahat, mas do tipo mais denso, para facilitar o múltiplo funcionamento físico. Essas seis modificações são:

1. – Kama: intensidade de desejo;
2. – Iccha: desejo;
3. – Samkalpa: resolução;
4. – Dhyana: meditação.
5. – Bhakti: devoção.

Pode-se compreender claramente, por isto, que Dhyana é uma das particularidades do veículo Manas.

Igualmente ao que ocorre com o Mahat, no veículo Manas, que se dirige naturalmente para o mundo exterior, Kama, Iccha e Samkalpa se inclina mais ainda para os objetos externos, empenhando-se vigorosamente nesse sentido (pravritti); entretanto, os outros três: Chinta, Dhyana e Bhakti, dirigem-se para o interno (Nivritti).

Das forças que estão  orientadas objetivamente, kama (intensidade de desejo) é a que provoca a materialização destas formas concretas representadas como corpos.
 Estes corpos estão constituídos por uma combinação dos cinco principais elementos materiais com que foram criados todos os corpos físicos. Estes elementos são: PRITHVI, AP, TEJAS, VAYU e AKASHA.

Prithvi, a Terra, forma o Corpo físico externo, com seu odor característico.
Ap, a Água, facilita a formação do sangue.
Teyas, o Fogo, auxilia a função digestiva e facilita a visão.
Vayu, o Ar, é o gerador da respiração e a sua regulação.
Akasha, o Éter, gera o som e a audição.

A este respeito, há de se ter bem presente que a característica física (swarupa) de cada alma individual se determina pela natureza de sua intensidade de desejo (kama), característica do Manas, de tal maneira que o desejo constitui o agente ativo na construção de determinadas formas físicas. Por conseguinte, se denomina a cada alma individual no mundo de kama-rupa (uma forma de desejo intenso), e, ao nascer o corpo físico, este vai tomando a forma correspondente a tal desejo.

Não se deve jamais considerar kama, em geral, como perverso, porque isso significaria que todos os seres do mundo sejam maus. 
O desejo, sim, que é malvado quando se torna apaixonado sob a influência do egoísmo separatista (dushta-ahamkara).
A crueldade (himsa), a falsidade (anruta), o egoísmo (awartha), a cobiça e a desejo (parigraha) exclusivamente por coisas materiais (ou objetos materiais) às expensas do próximo, constituem a natureza humana. 
Tais pessoas são consideradas seres inferiores (asuras). Delas, o GITA se expressa da seguinte forma:
Ó Partha! Orgulho, arrogância, vaidade, ira, crueldade e ignorância à existência do Princípio de Vida, é a herança dos homens que só buscam proveito próprio.”
 dhambo darpo abhimanasha krodhaha parushyamevacha agnanam chapi jatasha partha sampadamasurim.
Por causa de sua ignorância da natureza do Princípio Vital, considera que sua existência física e de tudo é a razão de ser da existência cíclica; por isso mesmo, não se dão curso evolutivo e involutivo de tal Princípio de Vida, ou Átman, que ocupa muitos corpos (jivas) para o seu necessário próprio desenvolvimento”.

“Os asuras conhecem o sentido do funcionamento objetivo e subjetivo da alma”.
 “pravrittimcha nivrittimcha janana vidhru-suraha”.

Quando a intensidade do desejo (kama) se transforma em apaixonada cobiça pelas coisas materiais, como é o caso dos asuras influenciados pelo egoísmo, esse desejo se considera perverso. Porém, o desejo imenso é uma necessidade já que é uma força impulsionadora, e se considera divino quando está em sintonia com as leis transcendentais da existência cósmica, ou seja, com o Sanáthana Dharma. Sobre isso, o GITA declara:

Ó, primeiro entre os Bháratas, eu sou o desejo intenso, que não é incompatível com o Dharma”.
dharmaviruddho bhuteshu kamosmi bharatarshabha”.
As pessoas que se sentem impulsionadas por semelhante desejo (kama) são chamadas de seres divinos (dharma kamaha). 
Neste caso, kama apresenta duas fases: uma que leva para cima e outra para baixo; porém, em ambas, o grau de intensidade de kama, quer seja em concordância com o dharma ou em desacordo com ele, é o que determina, respectivamente, a bondade ou a malignidade de sua natureza.

Os asuras, de natureza apaixonada, cujos atos obedecem, exclusivamente, a impulsos do corpo físico e que ignoram o que é Pravritti e Nivritti da Alma, dificilmente poderíamos esperar que se interessassem por Dhyana, porque este é um processo de Nivritti, ou de interiorização, ou contração, cuja base hipotética é um poder oculto: o Ishwara.
 Eles poderão ter o propósito de alcançar os fins próprios de sua paixão, mais ainda, pode ser que creiam em um Deus, produto de sua própria e temível imaginação, a quem atribuem suas próprias qualidades de apegos e aversões e, talvez, lhe ofereçam suas orações e sua devoção externamente, com grande pompa, para glorificação de si mesmos. Entretanto, tudo isto não é Dhyana.
De maneira, pois, que os únicos seres humanos, que podem entregar-se com toda a naturalidade ao Dhyana, são os de qualidades Divinas (Dévicas), porque existe neles o propósito de recobrar a memória perdida acerca da Unidade existente nas diversidades, e também de chegar a estabelecer contato com o Princípio Divino, sobre cuja natureza já tiveram a oportunidade de se instruir, por meio dos ensinamentos recebidos de um Instrutor Divino, o Sat Guru.

Funcionamento da Criação Divina

Quando a alma individual inicia o seu processo evolutivo, esquece que, na totalidade da existência, interior e exteriormente, está em essência a Unidade Divina.
 O nome Jiva, ou Jivátman, a Alma individual, tem referência àquele aspecto do Princípio Vital, o Átman Único que se multiplica em incontáveis Jivas para os fins de suas próprias experiências (purusha sukhadukhanam bhohrutve), quando o impulso criador desperta no Supremo Brahman (Bhahusyam prajayeyeti) “eu serei muitos”.

Aquelas pessoas que sabem como se multiplica um organismo unicelular poderão compreender o método da Criação Brâhmica.
 A matéria reunida para dar forma a um Corpo é manejada pelo Princípio Vital, o Átman, e, em seu início, esta matéria é atômica, resultando assim a criação de inumeráveis Jivas, mas o próprio Átman permanece alheio a isto, sem tomar parte, sendo uma simples testemunha da atividade dos Jivas.
 Este estado de simples observador, por parte do Átman, se denomina testemunha (sakshi), ou Nirguna; ao contrário, a existência atômica do Jiva, que é para o funcionamento, se chama Saguna, ou seja, o estado de formas. Aquilo que se deleita desfrutando é denominado Jivátman (Jeevyati, kreedati jivatma), este toma o corpo para o seu próprio prazer. 
A analogia com o próton estático e elétrons girando ao seu redor, segundo a Física, serve muito bem, respectivamente com a condição de testemunha própria do Átman e a dos Jivas observando em torno deste Átman (brahmayati).
A condição do Princípio Vital único (Átman) atuando como testemunha e as multiplicidades das almas individuais (Jivas) girando ao seu redor é somente subsequente a este estado de Transcendência, eterno e inseparável, denominado Paramátmico, Suddhátmico ou Brâhmico que, mediante sua própria energia denominada Yoga Shákti, ou Yoga-Maya, cria o Universo no qual reside como Átman único e cria também os inumeráveis Jivas (ekatwena pratakwena bhahuda viswato mukham).
 De modo que os aspectos Nirguna (testemunha) e Saguna (ativação) se referem ao Cosmos criado e, por conseguinte, são considerados asuddha; por outro lado, a Transcendência é diferente e superior e é denominada Suddha.
A matéria constituinte desta formação de Uno e Múltiplo recebe o nome de Matéria Raiz (Mula-Prakriti). Esta matéria se encontra latente no estado Paramátmico de Transcendência, ou Estado de Síntese (Samasthi), expressado sinteticamente como OM.
 Daí a verdade de que Espírito e Matéria são eternos (Prakritim Purusham chiva vidyanati abhavapi). 

Em outros termos, o estado sintético de Samasti, o Suddha Yoga, o Suddha Brahm, ou OM.
Mesmo quando o surgimento da criação se transforma na Multiplicidade (sankhya), este estado sintético desaparece; daí aquele postulado acerca de sua Omnipresença (Antaryami), ou seja, que é um só na diversidade da existência.
O estado de unidade indivisível se denomina, tecnicamente, Samahara; esta condição é um pouco menos que a de Yoga e também se a designa como Sankhya Yoga ou Suddha Yoga
Também se diferencia do mero Sankhya ou Kevala Sankhya que é um pouco inferior.
 Portanto, Sankhya Yoga ocupa uma posição média entre Sankhya e Yoga propriamente dito.
 O estado de diversidade chamado Sankhya não é nada mais que a soma de Gnana, Iccha e Kriya, que são as três primeiras energias do processo mundial. Estas três, juntas com o seu estado sincronizado de Yoga, constituem a chave da existência total e recebem o nome de Tritwikatwa, que significa “três e um”, sendo esta a base de toda investigação filosófica e também  denominadas tecnicamente de Vyashti.
Aqueles que desejam adentrar as transcendentes regiões do Suddha Yoga, que superam ao  Sabda-Brahm (outro nome dado à condição Cósmica de Tritwikatwa), somente poderão fazê-lo auxiliados pelo conhecimento do Pranava OM, tanto em seu aspecto sintético como no analítico (samashti e vyashti). Isto demonstra quão importante é o Pranava Shastra, ou Ensinamento Sagrado do Pranava, para os estudantes principiantes de Yoga, pois isto facilita a análise acurada dos diversos aspectos do pensamento, das  palavras e atos, porque ajuda a efetuar uma sincronização correta destes elementos entre si, como também individualmente.

Já expusemos que o Princípio Vital, ou Átman, se transforma em inumeráveis Jivas, com a finalidade de formar corpos para o seu prazer (atmabhogayatanam sariram).
 Pois bem, a primeira condição atômica criada pelo Princípio Vital forma principalmente quatro planos de estrutura atômica.
 O primeiro destes planos é o Avyakta que é um estado de fusão do Princípio Vital, da Matéria e da Energia (Átman, Prakriti e Shákti), também conhecido com o nome de Samahara, já referido antes, que é anterior do de verdadeiro Yoga. 
O segundo plano é Mahat, o terceiro Manas, já explicado antes, e o quarto Indriya, ou corpo físico.
O explicado anteriormente evidencia que o estado atômico não se limita exclusivamente ao plano físico, mas também aos outros três planos que, igualmente, estão formados de matéria.
 Portanto, assim como as investigações acerca dos átomos físicos se realizam, utilizando as condições que um laboratório externo oferece, a investigação da estrutura atômica dos outros três deve ser praticada da mesma maneira, exceto que, neste caso,  o nosso próprio corpo físico há de ser considerado como um laboratório.
 Esta modalidade de investigação é o que se denomina Yoga, com suas diversas leis chamadas Dharmas
Esta investigação se efetua com a ajuda de sons chamados Bijaksharas e o procedimento que se segue denomina-se Dhyana.
 Os resultados são alcançáveis no curso  desta mesma existência evolutiva mundial ou Samsara.
Toda investigação que se empreende é unicamente com o objetivo de incrementar os conhecimentos e, com isso, a felicidade; entretanto, só se pode atingir se se parte de uma hipótese correta.
 Este espírito de investigação e exame no plano físico é o que tem tido como resultado a considerável produção de comodidades materiais e o seu aproveitamento.
Da mesma forma, o exame e investigação semelhantes no plano superior ou espiritual conduzem à felicidade Átmica, tanto que a investigação e exame yogues dão por resultado  atingir a glória, não só no que se refere ao físico e espiritual, mas também no relativo ao funcionamento cósmico, em virtude do contato Brâhmico gerado por este Yoga.



Como funciona Chinta

Tudo o que expusemos antes é possível; só depende da capacidade de investigar que o Jiva que a isso aspira possui. 
Com o propósito de incrementar esta capacidade ou Shákti que possuímos, os seres humanos recorrem à reflexão, como passo preliminar, ao estudo e outros meios similares.
 Este poder (Shákti) que é o objetivo de Chinta, para começar, recebe o nome de Yoga-Shákti, em sua mais elevada condição, e os aspirantes lhe oferecem sua adoração na forma de Yoga Devi, porque, sem o auxílio desta Shákti, nada, absolutamente nada seria possível alcançar nos diversos planos da existência humana. 
Por isso, é de tanta importância invocar esta Shákti, louvando-a com o nome de MA, ou Mãe Divina, e outros mais.
A reflexão (Chinta), a que se recorre para adquirir esta energia (Shákti), se diz que segue certa direção para cinco objetivos diferentes.
Como já foi exposto, Chinta pertence à categoria de funcionamento subjetivo (Nivritti), e, por norma, tende a conservar e aumentar as nossas capacidades e energias, da mesma maneira que Pravritti tende a dissipá-las.
 Ante o fato de que, durante a existência evolutiva do homem, suas energias e capacidades estão em perpétuo desgaste e decadência, é-lhe aconselhado recorrer, voluntariamente, à Nivritti como meio de compensar a perda. 
Tendente a isto, a natureza impôs ao homem o recurso do sono, que contribui para conservar o equilíbrio dia após dia, mas que jamais poderá impedir o enfraquecimento de suas energias em sua totalidade, à medida que os anos vão passando. 
Em contrapartida, a reflexão – Chinta – é o primeiro passo encaminhado para deter esse desgaste e aumentar as nossas energias, como também para adquirir novas forças.
 Qualquer um poderá verificar isto por experiência; entretanto, isto pressupõe que já se possuam os conhecimentos precisos.
Para aqueles que recorrem à reflexão, os cinco objetivos ou direções que esta segue são:

1.- Vibhuti-chinta, que vai dirigida à felicidade (sukha), de diversas classes, tais como prakrita (material), atmiya (espiritual), ou Suddha (transcendental).
2.- Gnana-chinta, relacionada com a aquisição do conhecimento dessa ciência que facilita a felicidade.
3.- Sankalpa-chinta, dirigida à execução de atos motivados por nossos próprios desejos.
4.- Karma-chinta, quando se traça um plano de ação para conseguir um determinado resultado.
5.- Brahma-chinta, abarca todos os anteriores, vivificando-os, orientados todos a Brahm, a grande Fonte de Origem de tudo quanto existe. Este Brahma-chinta é o que se conhece com o nome de Dhyana, ou meditação.

Pela constante reflexão e meditação nesta Fonte de Origem, e ocupando-se de atividades em sintonia com ela, depois de um tempo, os homens recuperam, gradualmente, a memória de seu esquecido grau divino, o qual, por sua vez, não só lhe estimula a buddhi (intelecto), co-auxiliando para um funcionamento sadio na existência evolutiva, como também gera o que se denomina dhriti, a energia unificadora, ou Yoga-Shákti, mediante a qual se consegue tomar contato com o estado Paramátmico, que lhe permitirá uma maior elevação de funções.

O Manas Tríplice

Antes de começar a explicar o verdadeiro processo de Dhyana como tal, devemos nos aprofundar um pouco mais na natureza de Manas, veículo onde funciona a meditação.
Manas se divide em três partes: Asuddha, impuro; Suddha, puro; e Brahma ou transcendente. Esta divisão do Manas possui também a tríplice modalidade de reflexão a que já nos referimos. Vejamos:
Por meio de Saguna-Dhyana, toma-se contato com a forma Saguna no Asuddha-Manas. Pelo Nirguna-Dhyana, toma-se contato com a forma Nirguna no Suddha-Manas e, por meio de Suddha Dhyana, consegue-se tomar contato com a forma Paramátmica no Brahma-Manas.
De acordo com o que foi recentemente exposto, o estado de transe meditativo (Samadhi), ou equanimidade, é o seguinte: Savikalpa (com forma), Nirvikalpa (imanente) e Suddha (transcendente), respectivamente. Os movimentos do Jiva evolucionante correspondem, em geral, à Pravritti, a Nivritti ou a Suddha, e a glória resultante (ananda) é Pravibhakta (de desapego, mas alternando-se com a dor), Karanananda (glória átmica), ou Suddhananda (êxtase transcendente).
Na obtenção destes resultados, quer sejam estes de ordem material, espiritual ou transcendental, a firmeza de propósitos, que é a que assinala a linha de ação para chegar a esta realização, ocorre unicamente neste plano Manas, e como é somente por intermédio do Manas que são impulsionados todos os atos e obtidos os resultados, costuma designá-lo como o próprio Ishwara. Porém, estes resultados dependem do grau de pureza de Manas, pois somente assim se consegue desenvolver a firmeza mental que dará origem a todos os atos correspondentes.
A pureza mental mencionada aqui não deve ser confundida com o que já denominamos Suddha-Manas.
Este se refere ao veículo que gera a felicidade proveniente do contato atingido com o nível Nirguna da Divindade, enquanto que aquela (a pureza mental) é referente à maneira de atuar em determinada linha de conduta, quer seja esta pessoal (sat) ou impessoal (asat), pura (dévica) ou de ordem inferior (asúrica).
Neste caso, a atitude de firmeza mental se deve à pureza de Manas, atitude que é toda o contrário dessas pessoas de natureza vacilante, instável e desconfiada, incapazes de resolver atuar em determinado sentido. Este  estado mental é semelhante ao que se abateu sobre Arjuna na véspera da batalha e, por isso, se considera impuro (asuddha).
Esta classe de pureza mental diz respeito à ação seja lá qual for. Porém, só para a ação depende da amplitude dos conhecimentos que se conseguiu adquirir quanto à maneira de executar tal ação. E esta classe de pureza nada tem a ver com a realização das virtudes divinas transcendentes Saguna, Nirguna e Suddha, obtidas mediante a meditação (Dhyana).
Com o que foi exposto, está claramente estabelecido que a pureza de Manas, no que diz respeito à ação e à pureza de Manas para alcançar a realização divina, são duas fases muito diferentes. É preciso por muita atenção a isto e saber diferenciá-las.
O processo da Meditação – Dhyana
Vamos agora expor como é o próprio processo de Dhyana que ocorre no plano de Manas.
Dhyana consiste em reunir todos os pensamentos díspares, contrapostos, dispersos etc. e anulá-los mentalmente em Brahm, que é a Fonte Única Universal. Feito isto, deve-se manter neste estado durante um tempo de acordo com as nossas possibilidades, mas sem se forçar. 
Em seguida, deixam-se esses pensamentos ligados que se retornem ao seu estado anterior de diversidade. Este processo deve ser repetido de maneira lenta, segura e incessante até que, finalmente, a fusão (laya) desses pensamentos.
Para o principiante, este processo resultará fatigante e até provocativo; inclusive, poderá se tornar sensivelmente impossível, porque, quando se procura desviar para o interior, o Manas que, em geral, está dirigido para o mundo exterior, naturalmente se revolta.
 Por isso, aqueles que  abriguem o propósito de se dedicar a esta prática, fariam muito bem em ter permanentemente presentes estas palavras pronunciadas pelo Senhor:
Lenta e gradualmente aquietado” – sani sanihi uparamet”.
A tranquilização de Manas só se poderá atingir, de maneira eficiente, se previamente o discípulo assimilar conhecimentos de síntese – buddhya drithi visuddhaya
Possuindo tais conhecimentos, as dificuldades iniciais são superadas facilmente quando se pratica Dhyana e a prática resulta simples, o que entusiasma também o aspirante.
Durante o Dhyana, não se requer pensar, mas sim evocar, frequentemente, a ideia de que todos os fatores visíveis e invisíveis da existência, em sua totalidade e sem nenhuma exceção, emanaram da Suprema Fonte Única e com ela haverão de convergir.
 Ao praticar isso, há de se visualizar, de acordo com as explicações já apresentadas, um quadro mental dessa Fonte Única, quer seja da forma Saguna, Nirguna ou Suddha. 
O quadro que se visualize dependerá, por certo, da índole do indivíduo e do objetivo a que se propõe. Não importa qual seja a forma, o importante é que esteja presente a ideia de que ela é a Origem Única e Última.

 Em geral, para a maioria dos seres humanos, será apresentada a forma Saguna, e os principiantes farão muito bem em preferir unicamente esta forma para começar, não obstante o que lhes tenham ensinado outras escolas acerca das demais formas.
 Como as formas Nirguna e Suddha correspondem a aspectos mais sutis e intensos da Divindade, pode-se evocá-los com bons resultados mais adiante, na medida em que se progride.
Para muitas pessoas, poderá parecer pouco conveniente esta insistência na forma após a ideia; não são uma exceção nem sequer as pessoas educadas que estão acostumadas a pensar sobre ideias nascidas de sua própria e acalorada imaginação; e, mais ainda, para outros poderá parecer que isto é uma espécie de auto-sugestão. Ajudá-los, parece-nos impossível. 
O único meio, que nos permitirá conhecer a verdade, é o processo alcançado por meio das práticas feitas com toda devoção e a firme resolução de atingir o objetivo ansiado. 
Assim como o maior gigante da vida materialista é só uma criança em questões espirituais, assim também o maior gigante espiritual é um simples bebê no que se refere às verdades transcendentais do Suddha Brahm.
A prática de reduzir o múltiplo à unidade e vice-versa está magistralmente expressa no GITA:
quando o aspirante consegue perceber a multiplicidade concentrada na Unidade e, por sua vez, emanando e irradiando desta, então terá compreendido Brahm”.
 “yada bhuta prithak bhavam ekatwan anupasyati tada evacha vistaram Brahma sampadyate tada”.
   Brahm é o mais excelso estado a que se pode aspirar.
   A prática mental de reduzir a diversidade à unidade e vice-versa leva o nome de Ptanyama, a qual já foi objeto de estudo em outra oportunidade.
   Dhyana começa quando, como resultado desta prática, se atinge, no Manas, o estado de fusão denominado laya e, como resultado, se obtém, a visão das beatitudes (vibhutis) Brâhmicas.

 Este êxito de visão se denomina tecnicamente Sakshátara, ou seja, o contato com a forma em que se meditou.
   No princípio, este contato será só momentâneo; porém, sua duração irá aumentando com a prática. Pode-se afirmar ser este o ponto de partida do que se chama “atingir a Brahm” (Brahma sampadyate). Começa com seu aspecto Saguna, como Samsarátman, ou Jivátman, representado idealmente por Rama ou Krishna. Daí, ao seu aspecto Nirguna, como Sakshi, ou testemunha que tem a dimensão do nosso dedo polegar (angushta matra purusha). 

Daí em diante, é uma interminável aproximação a Brahm – o contato atingido com o Suddhátman, ou Satchitanandarupa (forma de sabedoria, Verdade e Glória). Isto assegura ao discípulo-aspirante um grau dentro da Hierarquia Divina da SUDDHA DHARMA MANDALAM, cujo Supremo Diretor é Bhagavan Sri Naráyana.

Resultados Gerais de Dhyana

   Os benefícios obtidos por aqueles que se dedicam à modalidade correta de meditação são múltiplos e de vastas projeções. 

Destes benefícios, o mais importante é a purificação de todos os veículos (corpos) (bhutasuddhi): significa que a estrutura atômica de nossos veículos mortais vai se refinando ou se sutilizando cada vez mais, aumentando, assim, a sua sensibilidade para captar as forças superiores, e isto traz consigo a glória.

 O ser humano consegue a longevidade; é amado por todos e, em consequência, chega a ser supremo; incrementam-se suas energias físicas, como também seus poderes mentais e intelectuais; seu aspecto se torna juvenil; desenvolve uma percepção amplíssima e, com ela, todas aquelas virtudes que trazem consigo o funcionamento divino. 

Também atinge, sem sombra de dúvidas, a recordação de suas vidas passadas. Enfim, cumprem-se todas as aspirações daquele que se dedica às práticas de meditação.
   Os Hierarcas dos processos evolutivos mundiais, tais como Brahma, Vishnu e Maheshwara, com outros mais, alcançaram, exclusivamente por meio do Dhyana Yoga, o elevado grau de Adeptos no que se relaciona com suas respectivas funções.

 Tão-só por meio de Dhyana, sabem introduzir, eficazmente, toda medida que seja necessária para o bem-estar dos mundos; podem, ainda, continuar indefinidamente as suas funções.
   Seres humanos de grande eminência, entregues às práticas meditativas, conseguem tomar contato com a Brahma-Shákti, que é a fonte de poder e energia única, eterna e imperecível.
   Desta forma, a meditação, quer seja da modalidade Saguna, Nirguna ou Suddha, é para os Yogues e Devotos, como também para os Sábios, o único meio para alcançar elevadíssima e máxima auspiciosidade. O resultado para os Devotos é a realização de Deus; os Sábios e Filantropos alcançam a grande paz; para aqueles que estão se desempenhando no vasto processo evolutivo mundial, a meditação traz liberação.

 Os Gnanis alcançam a Glória Eterna; os Yogues alcançam facilmente o estado de Samadhi; enquanto que os Vedantinos conseguem adquirir a natureza brâhmica. 
Em realidade, a meditação é o único e mais adequado meio para capacitar os seres humanos a realizar os grandes Purushartas, denominados, respectivamente, dharma, artha, kama, moksha e prapty, já referidos por nós.
   Por isso, se exorta a todos e a cada um que pratiquem Dhyana, pois conhecerão, assim, os excelentes benefícios que traz consigo, por meio do estudo devido, com um conceito legítimo proveniente deste estudo, e desempenhando os atos que lhes cabe executar.
 Estes três são requisitos necessários para uma meditação plena de êxito.
   Que o Ishwara, entronizado no coração de todos os seres, impulsione e conduza todos pelo Suddha Dhyana e Suddha Yoga até alcançar a Grande Realização: o SUDDHA BRAHM!

AUM : TAT : SAT : OM



[1] Purushartas, ou objetivos do ser humano, são: Dharma, Artha, Kama, Moksha e Prapty.
[2]  Por isso, a prática e vivência do Bhávana para se exercitar a unidade. Nota do tradutor.